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Da poesia

 

O que dizer sobre a Poesia, quando é a Poesia, forte ou soberana, que deve falar de si mesma. Alguns a julgam inútil e assim a julgam os que não a entendem.

E entender precisa ter ouvidos de alma e olhos de sonho. Mas nada no universo é inútil, tudo tem seu precioso significado e tudo busca sentido. O que não compreendemos não quer dizer a negativa de existência das coisas.

E mesmo que a Poesia no materialismo deste século, ou no encolhimento cultural, tenha voltado para as catacumbas, ali vigorosamente continuará a existir e revelar a grandeza da palavra e a cintilância do Espírito, que sopra onde quer.

Muitas vezes há os que negam a Poesia, sob o pretexto de que é obscura, ininteligível. 

Mas, ao contrário, obscura e inintelegível é a alma desses. Sim, herméticos são os perseverantes da escuridão. 

René Char, o admirável Poeta francês, observa ser “a imaginação, uma menina” e para ele, “o poema não é belo, curioso, original, mas algo que deve ser saboreado e admirado.”

A luz na verdade acostuma e vê a luz, quem a tem. O mesmo que ocorre com o divino.

E se vier a pergunta que explique o motivo de criar  a Poesia, não carecerá de resposta. Porque se escreve e se repete, porque muitos não ouvem. 

E ninguém escolhe ser poeta, é a Poesia que nos escolhe. E há de ser a segunda ou terceira natureza de estarmos vivos, ao nos estabelecer como voz no universo.

E o poeta é exatamente aquele que dá rosto e voz  aos que não os  têm. Ou que tenta tornar visível o que parece ser invisível.

Tudo é palavra, até o que não é. Tudo é milagre, ainda que o tempo não o queira sentir. 

Quando a Poesia não precisa existir do que sabe, também existe do que não sabe.

Tribuna Online, 17/10/2021