Salienta Jonathan Swift, o genial autor de “Aventuras de Gulliver”, que são “bem-aventurados os que nada esperam, porque não ficarão decepcionados”.
Eu, hoje, aprendi a não esperar nada e, se nada acontece, já me achei no patamar. E se acontecer, é graça.
Aprendi, igualmente, a não esperar nada da literatura mesmo que já esteja nela, há 60 anos. E, o que vem, é lucro.
O reconhecimento é do tempo. E o que vale é perseverar. Trabalhar a finitude, até que a finitude nos trabalhe.
Nada mais me decepciona por conhecer os limites, seja na cultura, seja na criação, seja na filosofia, seja no conhecimento humano.
Goethe adverte que os nossos atos bons ficam no silêncio e os erros vêm à tona. Sobre isso mesmo já referiu o Mestre Shakespeare.
O que os homens não conhecem, ou chamam de vaidade, orgulho, brilho demasiado, tudo o mais já se aguarda, como se aguarda a incompreensão. Ou até o ataque da ignorância à cultura.
Porque não é possível mais nos decepcionar, por estarmos calejados, de “pele dura”, habituados.
Nem arbítrio, ou desconsolo, ou a dor. Porque, como afirma um provérbio árabe, “do espinho não colhes uva”.
Assim, se vier uma alegria, ato de amor, gesto fraterno, ou alguma inesperada vitória, nos alcançará inaudita felicidade. O hábito de sofrer não gera mais sofrimento. Acostuma.
E a experiência de Deus não cria limo, renova e não decepciona. E a bem-aventurança é mais de Deus, que dos homens.
E ainda bem. E como escrevi certa vez, “bem-aventurados são os pássaros/ que vivem na liberdade, sem idade”.