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Amarildo, pedreiro

 

Amarildo, pedreiro

Amarildo, pedreiro, inerme, dentre pedras, ninguém o construiu, onde o silêncio

medra, silêncio que preserva o que nos olhos viu quando a semente abriu: Amarildo sumiu.

Não deixou sequer rastro. Como navio sem mastro, ou mastro sem navio.

Teve o corpo roubado, teve a alma roubada.

E nem a terra sabe, onde foi posto o corpo subtraído por vermes.

Ou pelo espaço solto.

Nem o céu, nem o inferno têm de Amarildo a sombra.

E não sei se existiu.

Casado com as ervas, sua mulher diz sim, existiu como a chuva, o sol ou as saúvas.

E a lua na escura habitação.  Integrava sua família, a fome.

Amarildo some. Sem nenhuma prova, Ou nenhuma cova achada, ou que lado a sua luz fugiu, ou talvez fosse a noite.

Se torturado ou não, a polícia se cala, Como a morte expande seu sotaque e juízo.

Era um homem, ou foi.

Ou nem chegou a isso.

Era somente abismo.

O Globo, 27/07/2015