Amarildo, pedreiro
Amarildo, pedreiro, inerme, dentre pedras, ninguém o construiu, onde o silêncio
medra, silêncio que preserva o que nos olhos viu quando a semente abriu: Amarildo sumiu.
Não deixou sequer rastro. Como navio sem mastro, ou mastro sem navio.
Teve o corpo roubado, teve a alma roubada.
E nem a terra sabe, onde foi posto o corpo subtraído por vermes.
Ou pelo espaço solto.
Nem o céu, nem o inferno têm de Amarildo a sombra.
E não sei se existiu.
Casado com as ervas, sua mulher diz sim, existiu como a chuva, o sol ou as saúvas.
E a lua na escura habitação. Integrava sua família, a fome.
Amarildo some. Sem nenhuma prova, Ou nenhuma cova achada, ou que lado a sua luz fugiu, ou talvez fosse a noite.
Se torturado ou não, a polícia se cala, Como a morte expande seu sotaque e juízo.
Era um homem, ou foi.
Ou nem chegou a isso.
Era somente abismo.