DISCURSO DO SR. DOMÍCIO DA GAMA
Meus Senhores:
É uso consagrado nas recepções acadêmicas começar o novo sócio o seu discurso com palavras de modéstia e gratidão, humildes agradecimentos à ilustre companhia pela eleição que o promoveu a augusto. Eu não seria sincero, se fizesse o mesmo. A alegria de pertencer à Academia Brasileira não se mistura em mim com o desvanecimento de quem se considera exaltado de nível superior, nem com o orgulho aristocrático, descabido na república das letras.
Ainda que me faltem títulos para afirmar, como o nosso batalhador colega estrangeiro, que “deve ser da academia, pois que a academia existe”, não me admira o ser desta academia.
Desta e não de outra, onde me não julgasse em casa e no meu lugar, amparado pela confiança afetuosa num valor não provado por obras e atos capitais, apenas pressentido, desejado simplesmente, na presunção da convergência dos esforços diferentes para um ideal comum.
Esta simpatia, esta confiança, este amparo já de há muito eu sentia disseminadamente e bem sabia distingui-los da vaga e incerta aprovação do público: posso agora objetivá-los, retraçar-lhes a origem prestigiosa agora que vos reunistes e me chamastes para o vosso lado.
Julgo ter passado a idade das generalizações ambiciosas, do atrevimento às afirmações categóricas: entretanto, acredito agora, como nos meus princípios acreditava, na objetivação social da arte. E sobre este ponto da finalidade estética, deixai que, rompendo os hábitos da modéstia brasileira, eu fale de mim por um momento, “neste momento solene”, para vos provar a minha perseverança de doutrina acadêmica.
Eu lá fiz parte, fui mesmo presidente perpétuo – aos dezoito anos – do Grêmio Literário Jardim de Academus, que tinha vinte sócios, todos de idade muito próxima à idade do presidente. O Jardim de Academus era nos fundos de um segundo andar que dava para as oficinas da Gazeta de Notícias, e, vindo dos quatro cantos da cidade, portadores do óleo puro para a lâmpada da idéia, ali nos reuníamos uma vez por semana.
Ainda não abaixávamos os olhos para essa miséria da dominação pelo jornalismo, ainda não cuidávamos dos meios de conquistar o mundo e já pensávamos em reformá-lo. Estudávamos para esse fim a Política e a História, a Religião e a Arte, Fisiologia e Gramática, os modos de ser e os problemas dos destinos, a Poesia.
Éramos teoristas doutrinários, éramos materialistas, socialistas, niilistas e, por uma generosa inconseqüência, éramos nacionalistas. Numa noite escura e quente, em que nos achamos quase tão numerosos como hoje e o piano da vizinha enchia o corredor com a música excitante de uma polca à moda, nós, comovidos e sinceros, afirmamos a existência de uma literatura nacional.
Esse voto em que o entusiasmo juvenil pesava mais que o estudo atento dos nossos elementos literários, esse voto dos meus dezoito anos pensativos e ardentes, tem sido, sem parecê-lo, uma das raras responsabilidades morais da minha vida de abstenção e de reserva. Foi ele, certamente, o que me distraiu da Matemática, que me levaria à indústria, para a Literatura, que ainda não sei aonde me leva. É caso aqui de dizer-se que, se a literatura nacional existia, eu devia trabalhar para ela, provar a sua existência aos incrédulos.
Nada existe tão bem como aquilo que queremos que exista; como um fundador de religião que não pregasse e só esperasse depois de convencer-me, tomei sobre mim, dentro de mim, o encargo da nova crença. Quem sabe se na obscura causalidade universal o voto dessa noite dos tempos heróicos do Jardim de Academus não influiu para a constituição desta Academia, na hora em que a literatura brasileira sentiu que vivia e quis viver nacionalmente? O elogio fúnebre que fiz de Franklin Sobral Bitencourt, cabeça e coração do nosso grupo, que a sua morte dispersou, foi uma oração piedosa mas não desconsolada. Ainda na memória dos mortos queridos encontra amparo a esperançosa mocidade.
Nós lhe prometemos continuar a sua obra de missionário da fé na Pátria e nos seus altos destinos; prometemos aprender a ensinar a palavra divina da crença no melhor, escrevê-la nos monumentos, para que seja venerada; entoá-la ritmada em canções de marcha, que nos quebrasse os tédios, que nos desse alento na fadigosa jornada da vida.
Se bem cumprimos todos essa promessa não sei, que nos separamos logo à primeira encruzilhada, e não sei onde param hoje todos os companheiros do grêmio. Agora que me acho entre vós, grupo de gente ilustre e provecta, e vejo que pondes todos a vossa segurança e mestria nos ofícios intelectuais ao serviço do mesmo ideal do malogrado Franklin, venho para vos falar de outro coração violentamente amoroso do belo e do bem e que estalou à pressão excessiva das paixões generosas. Esta aproximação de situações, de pessoas e de estados de espírito, me faz pensar que o Jardim de Academus foi como o meu seminário menor e que esta solenidade é a da minha ordenação de letrado.
Venho falar-vos de Raul de Ávila Pompéia e, oprimido pela grandeza da tarefa, quase me arrependo de a ter solicitado do colega* que primeiro a tomara para si. Anima-me, porém, a esperança de que me perdoeis a deficiência do esforço pela estreiteza do tempo, pelo quase improviso desta oração; anima-me, sobretudo, a certeza de que o pouco que eu disser de Raul Pompéia vós completareis com as vossas reminiscências pessoais, mais antigas, ou mais modernas, que, com risco embora de avelhentar o retrato, só do Pompéia de há doze anos falarei com inteira segurança.
Foi esse tempo em que conheci talvez o mais fecundo da sua breve existência. Escreveu ele então O Ateneu em três meses, num arranco magnífico, que se não reproduziu. E ao mesmo tempo revia as provas de uma edição das Canções sem metro, para as quais procurava ainda epígrafes, “porque com epígrafes”, dizia ele, “pode-se concentrar num livro toda a poesia humana”. Não encontrou sem duvida toidas as de que carecia, pois que em oito anos o livro não ficou pronto. Quereria acaso que ficasse sendo esse o seu livro e deixá-lo-ia para ser acabado em tempos serenos. Entretanto, foi escrevendo a “Boceta de Pandora”, na Gazeta de Notícias, os folhetins do Jornal, prefácios patrióticos, contos de estética vária, redigiu A Rua, dispersou-se em notas de crítica e artigos de polêmica política; foi professor de Estética, diretor de estatística, de biblioteca e de jornal oficial, deixou-se arrastar pela lógica irresistível às derradeiras e nefastas conseqüências dos seus princípios filosóficos e, combatente leal, perdida a serenidade conservativa, esse coração de doçura foi invadido pelo “ódio santo que é apenas uma forma militante de amor”, mas que é corrosivo e traz consigo os fermentos de autodestruição...
Seria muito longo e não afirmo que não seria fastidioso em discurso acadêmico o estudo do processo psicológico que transforma em ódio, revelado por manifestações negativistas, o culto da suprema beleza e da justiça. Entretanto, pode descobrir-se, e basta indicar aqui, a eiva do destino funesto na própria violência adorativa desse culto.
Na sua meticulosa honestidade de poeta pensador Raul Pompéia descia sempre ao que julgava ser os fundamentos inabaláveis da ciência. Um dia encontrei-o que estudava a teoria das vibrações.
“Neste estudo encontro eu toda a estética e a própria vida”, explicava ele, “porque a arte reproduz vibrações, e vibrar é viver.” Isto mesmo canta na harmonia austera da prosa uma das suas canções, a que serve de epígrafe uma quadra prestigiosa de Baudelaire:
Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.
“Vibrar é viver. A vida vibra. No abismo etéreo à música das esferas, no segredo subterrâneo dos sepulcros, na luz, na chama, no perfume, no som, na putrefação. Vibra à semelhança na alma. Psique é o entusiasmo ou a melancolia. Há clarins e lampejos solares no entusiasmo; na melancolia adágios que agonizam e sombras mortas. E entre os extremos alcances matizam-se as cadências do coração – musicalmente, como se diz do som; em gradação de cores, como se diz da luz; entre a lírica intensidade rutilante e a vibração angustiada e tarda das elegias cresce a sinfonia cromática das paixões.”
Quem diz paixão diz violência de desejo, diz incontentamento de gozo, e depressão moral, e abatimento, sucedendo à exaltação e ao entusiasmo. Raul Pompéia era um apaixonado. Porque era sincero e puro, dava-se todo ao seu afeto, de cada vez objetivado em vão. Não compreendia na sua singeleza – porque a sua complicação psicológica era toda de aparência – não sentia que a paga do amor é o próprio amor, e – novo Pigmalião criador da beleza em sonho – queria receber da fugitiva bondade, da precária justiça da incerta humanidade a volta do seu ardente culto, remédio às suas ânsias de paixão. Isso imprime às suas melhores páginas de contemplação a tinta escura do pessimismo, que era o fundo da sua filosofia. Não do pessimismo que nega o progresso, mas do que se queixa dos sofri¬mentos da jornada. Desde a canção dos “Frutos verdes” este gemido se exala de não ver cumpridas as promessas da Esperança:
“Em meio do caminho da vida encontrei as confissões do coração humano, a que vinha do norte, a que vinha do sul, a que vinha do oriente, a que vinha do ocidente. Eram como quatro irmãs, muito velhas, envelhecidas de séculos e ainda mais de amargura e de meditação. E seguiam em êxtase, sonâmbulas, olhos no céu, como argüindo o mistério dos astros. Na terra eram seus passos como sem destino; erravam sobre os seixos ásperos e os cardos, e os pés sangravam na gasta sandália da humildade. E murmuravam em prece: “Esperança! esperança!” todas quatro, a que vinha do norte, a que vinha do sul, a que vinha do oriente, a que vinha do ocidente.
Sob um mesmo céu tropical, entre as cinzas aéreas do mês de agosto, caía uma tarde dolorosa. Na linha do horizonte fechava-se uma cinta de névoas cor de cobre, por igual, como se o dia em ocaso se fosse sumindo ao mesmo tempo por todos os lados; e os matizes do crepúsculo condensavam-se para baixo, horrivelmente, céu em maceração de tortura, horizonte de gangrena, triste acabar da luz.
Sentiam-se as cidades, ao longe, na penumbra murmurante, ouriçadas de torres ou minaretes. E de longe, como um eco distante, chegavam destroços de mil rumores humanos – a voz de todos os desgraçados, dos cegos sem sol, dos famintos sem trigo, dos suaves sem carinho, dos humildes sem amparo, dos altivos sem triunfo, dos triunfantes atraiçoados, dos traidores em agonia de remorso, todas as escalas do gemido e do lamento.
As confissões do coração humano iam dizendo, entretanto:
Esperança!
Esperança! esperança! Vésperas verdes primaverais, confiantes do outono certo, eternas vésperas venturosas da ventura!
Mas eu não vi na terra um único pássaro que se nutrisse dos frutos verdes... prometedores.”
Pelo livro toda das Canções as notas dominantes são as graves, de vibração profunda, como assenta à música do pensamento de que a alma humana é o tema.
Pompéia era torturado pela curiosidade ardente de conhecer o outro lado, o interior, a alma das cousas; sofria a obsessão do mistério da vida, que a nós nos deixa resignados, se não indiferentes.
Havia nele a agitação de uma alma divina, orgulhosa, dominatora, que não queria ser possuída sem possuir e para a qual a posse não existia sem o conhecimento. Esse orgulho defensivo, conciliável com a ternura exuberante, o levava a afirmar o que queria que fosse a realidade, talvez pela idéia obscura de que ela assim seria por força do seu desejo.
É o que explica a violência espasmódica do seu estilo, mesmo nas páginas que deveriam ser serenas, a constante postura em guarda dos seus períodos, como nos dramas a preparação, a expectativa do lance, que vai mudar a situação, retesa a linguagem, tira-lhe o tom descuidoso e a naturalidade de quem fala no presente, ignorante do que vem depois. Nos hinos, nas expansões líricas em que o afeto implora o carinho e a alma vencida se faz mansa e humilde e esquece o sofrimento na esperança, ainda na dele estremece e soluça a memória dos passados transes, palpita o receio da desilusão futura.
Na “Canção do Azul”, por exemplo:
“Encantamento do meu olhar, vem ungir os meus olhos! Longe a obsessão dos lúgubres lamentos e o torvo pranto dos assombrados da morte... Basta-me junto a mim o saudoso fantasma do teu sorriso.
Vem! braços abertos! Neles transporta-se o coração em cruz – angústia e glória de um calvário novo, ignorado de Deus!”
Em outro poeta se levaria à conta de extrema mocidade este lirismo sombrio e tumultuoso. Em Raul Pompéia, porém, o estilo é característico e também se poderia dizer que nele havia de durar sempre a mocidade, se é próprio da mocidade sentir vivamente e exprimir sentimentos com intensidade proporcional à da sensação. Nem se diga que é fácil produzir efeitos literários no claro-escuro prestigioso da uma psicologia incerta, em que o poeta tudo cria: as pessoas e o meio favorável a situações e sentimentos improváveis. O autor do Ateneu também sabia fazer o retrato, com a exageração do traço fisionômico, que aconselhava o pintor Lawrence. Mas o pintor inglês escolhia na figura o traço de beleza, porque para ele a arte de representação era um fim. Raul Pompéia entendia que a arte, que tem um fim social, devia representar o que o artista tivesse em mente, que seria belo quando avultasse e vivesse, livre de certas regras estreitas, fora das contingências da estética corrente. E fazia caricaturas por vezes, por vezes desenhava imagens encantadoras, e numas e noutras se encontra sempre a marca do artista genial, do que se inspira da vida para produzir a emoção, que é uma das razões da vida.
Não era somente o homem o que ele sabia representar. Um período de paisagem de nevoeiro, em que a bruma aparece como subjetivada, bastará para exemplo da sua arte panteísta:
“Não sei que penetrante analogia me impressiona no espetáculo das névoas flutuantes, que vão sem rumo e sem forma pelo ar; que se conglobam, que se dispersam, que se derramam de cima como a dissolução do céu sobre a terra; que se elevam da relva, como se o solo fumegasse; que tombam em silencioso desmoronamento e que se erigem súbito em fabulosos castelos, como por efeito de uma sugestão de sonho; que se equilibram em torre e que rojam depois no chão; larvejando, vermitando em convulsões torcidas de réptil; que vivem materialmente e sem nenhuma propriedade da matéria; silenciosas, impalpáveis, ilimitadas, como sombras apenas, – nem isso! que seria demasiado concreto – como a pura transparência, como deveriam avultar os espíritos se tomassem corpo e se nos afigurassem contudo na imagem indefinida da imaterialidade, como formas, se é possível dizer, de abstração com um aspecto inexprimível de representação psicológica, a ponto de se não saber decididamente se existem de fato na natureza, ou se apenas a sonhamos em nosso coração, espécie de cena moral da tristeza do mundo, tristeza difusa, sentimento disperso, ou antes, matéria cósmica de sentimento sombrio que ainda há de existir, ou que tem já existido.”
Um período destes, como um desenho de estudo de um grande pintor, já seria representativo de uma alta personalidade literária. Em tudo o que Pompéia escreveu se encontram análogos, de tonalidade vária e de valor seguro. E O Ateneu, que foi o único livro completo que nos legou essa fecunda e generosa inteligência, está cheio de iguais chamadas à atenção em cada página.
Eu disse “generosa inteligência”, e empreguei o adjetivo para contestar a opinião que dá O Ateneu como um monumento de ódio que se vinga. Fossem tais embora o estímulo e a tenção, e ainda lhes serviria de justificativa a beleza da obra. Mas, seria um mesquinho móvel e uma baixa empresa para tão peregrino e puro espírito, e das suas origens se envenenaria o livro, que ninguém seria capaz de reler se o não animassem outros sentimentos.
Coleção de retratos em caricatura ou em proporções naturais; álbum de figuras miudamente desenhadas ou de perfis rápidos; galeria de quadros maravilhosos em que a maneira chega a impressionar independente do assunto, com proveito manifesto para o artista; livro de sátira, mas da sátira que se contenta com o riso e perde com ele a força para ir até ao insulto; em que a comédia das ambições mesquinhas, dos apetites disfarçados ou cínicos, do egoísmo feroz e dos temores vis, se desenvolve ao lado do drama da escravidão das almas, das individualidades tolhidas na sua expansão, desviadas viciosamente, feridas, humilhadas, espezinhadas pelo desprezo generalizado do educador mercenário; livro de dou¬trina moral e de estética, em que se ensinam as grandes sínteses do espírito humano e as pequenas lições de cousas; livro de ironia, livro de piedade e de ternura, “crônica de saudades” realmente, saudades não do que foi, mas do que poderia ser essa passagem inolvidável através da primeira camada da sociedade, em que todos os elementos da cidade se acham reunidos e ainda não existe o cidadão, livro de poesia, livro denso e sugestivo de fundas meditações, como poucos se encontram nas literaturas todas, é O Ateneu.
Pompéia se descarregou nele de um mundo de idéias que não achariam lugar em outro. A saturação de conceitos ali parece natural e vem a tempo em um livro que trata da vida de colégio, da formação do espírito. O próprio estilo imaginoso, sempre atento às aproximações grotescas ou líricas, pela força da disciplina metafórica, tufante de intenções, atinge as alturas da consideração devida às cousas artificiais bem sustentadas.
E seria mesmo artificial? A exuberância e a sensibilidade de Pompéia poderia acaso conter-se nas peias da linguagem comedida e moderada? A violência, que nos perturba, ainda quando seja uma manifestação de beleza porque nos invade a admiração e se nos afigura efêmera e insincera, a violência deixa de o ser quando é a expressão normal, o modo de ser de um grande artista, e a ela nos acostumamos como à voz retumbante de um cantor.
Se dela mais cedo morre o artista – fatalidade de máquina em trabalho assíduo e sob a alta pressão constantemente – dessa vida curta embora, a obra que fica é da maior beleza a enriquecer o espólio das gerações humanas.
Meus senhores, o elogio de Raul Pompéia não está feito, que este discurso não é senão uma nota desconcertada e rápida e demasiado incompleta sobre uma parte apenas da sua obra dispersa e vária e mal conhecida. Compondo-o entre os alvoroços e perturbação de uma volta à pátria, ao cabo de longa ausência, e as preocupações da nova e próxima partida, só dele fiquei contente com as horas que assim passei no convívio de tão puro e gentil espírito e dos que me ajudaram a entendê-lo. Possa esta tentativa falha estimular os mais capazes a erigir-lhe o monumento perene.