Jaqueline Porto
Um agradecimento àqueles que o receberam tão bem; uma homenagem à língua de Machado de Assis, Luís de Camões, Joaquim Nabuco e mais 230 milhões de pessoas; e um presente para a Academia Brasileira de Letras (ABL), que este ano comemora 110 anos de existência. Essas foram as motivações do novo documentário do cineasta e acadêmico Nelson Pereira do Santos: Português, a Língua do Brasil, que terá pré-lançamento na 5ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Ao todo, 19 imortais de diversas partes do País foram entrevistados. Nos relatos de Ariano Suassuna, Marcos Vinícios Vilaça, Alberto Costa e Silva, Evanildo Bechara, Affonso Arinos, Arnaldo Niskier, João Ubaldo Ribeiro, José Sarney, Ivan Junqueira, Ledo Ivo, Moacyr Scliar, Domício Proença Filho, Ana Maria Machado, Murilo Melo Filho, Antonio Carlos Secchin, Carlos Nejar, Sergio Paulo Rouanet e Nélida Piñon, a relação com as palavras e a história da ABL são apresentadas sob pontos de vista especiais.
Nelson Pereira dos Santos explica que, apesar do roteiro das entrevistas ter sido o mesmo para todos, nada se repete. "Todos acrescentam saberes e histórias peculiares. A fala, como diz Carlos Nejar, é gustativa, ou pode ser gostosa, como comenta Arnaldo Niskier. E a Casa de Machado é a grande protetora e preservadora desta língua viva com variantes, criações e mutações", relata.
As imagens foram captadas nas dependências da ABL, durante duas semanas do mês de março. Projetado para ter, inicialmente, 50 minutos, o filme finalizou com 90. A cena inicial mostra o tradicional e mítico chá, preparado por Dona Cecília, servido nas belas xícaras inglesas, antes dos acadêmicos seguirem para a sessão conjunta das quintas-feiras.
Para ornamentar os relatos, livros de cada escritor são mostrados, com as imagens das capas e as lombadas, sob fundo musical de as Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, interpretadas pela pianista Clara Sverner.
Além do lançamento no dia 20, data de início dos festejos pelos 110 anos da Academia, o documentário será veiculado em canais de televisão, universidades, bibliotecas públicas, festivais e feiras literárias, não só no Brasil, mas em outros países integrantes das comunidades de nações lusófonas.
Nelson, que também depõe no filme, reforça que o projeto é um agrado à Casa da Machado e seus novos amigos. Porém, afirma que o objetivo é maior. "Outros documentários virão, cinco ao todo, mostrando a diversidade lingüística, fonética e vocabular do português. Foi uma escolha acertada fazer esta produção justamente quando o Brasil está perto de fechar um novo acordo ortográfico com Portugal e no ano das comemorações de 200 anos da chegada de D. João VI ao Brasil", explica.
Um contraponto curioso é que o filme começa com a elegante cena do chá e termina com o desfile da Escola da Samba Estação Primeira de Mangueira, que homenageou a língua portuguesa no carnaval deste ano. O diretor de Rio 40 Graus, Vidas Secas, Memórias do Cárcere e outras obras do cinema nacional, explica que foi questão de sorte o enredo combinar com o tema do documentário.
"Imagine fazer este filme sobre a língua portuguesa e a Academia, exatamente no ano em que a Mangueira teve o tema como enredo e convidou os acadêmicos para participarem da grande festa popular que é o carnaval. Isso é pura sorte. Eu tinha que aproveitar essas imagens. Fechei com chave-de ouro com os imortais acenando para o povo do alto do carro dos baluartes", comemora o cineasta.
Jornal do Commercio (RJ) 6/7/2007
11/07/2007 - Atualizada em 10/07/2007