Foram encerradas nesta terça-feira, dia 23 de novembro, as celebrações do “Ano Joaquim Nabuco” no exterior. A última série de conferências, organizada pela Academia Brasileira de Letras, pela Embaixada do Brasil em Washington e a Biblioteca do Congresso norte-americano, foi aberta pelo Presidente ABL, Acadêmico Marcos Vilaça, pelo Embaixador do Brasil, Mauro Vieira, e pelo Diretor da Biblioteca do Congresso, Professor James Billington.
"O encontro fez culminar no mais alto nível a série de celebrações que começamos em meados do ano, envolvendo Itália, França, Inglaterra, Espanha e Portugal, e tornando viva a memória de um dos mais eminentes construtores da nacionalidade brasileira", afirmou o Presidente Marcos Vilaça.
Após a abertura, em um auditório com público formado por autoridades e personalidades do mundo intelectual e acadêmico, seguiu-se a primeira sessão, intitulada Joaquim Nabuco and his Time, com palestras do Professor Leslie Bethell, Sócio Correspondente do ABL, do Acadêmico Geraldo de Holanda Cavalcanti, do Professor David K. Jackson, da Universidade de Yale, do Acadêmico Ivo Pitanguy e do deputado pernambucano Maurício Rands. Na segunda sessão, Joaquim Nabuco and the Brazil-US Relations, falaram os mesmos oradores, com participação do Presidente da Biblioteca do Congresso.
Na qualidade de moderador do encontro, na abertura, o Presidente da ABL ressaltou a importância de um encontro inteiramente dedicado à memória de Nabuco: "Sem a memória, os afetos se perdem. A memória é necessária para sentir a relevância do tempo. Sem memória, o presente nos escapa, esvai-se e, simultaneamente, converte-se em passado remoto. Sem passado, perde-se o sonho, e o homem desabita-se de pessoas e lugares. Quem perde a memória perde a vontade. Permanece inerte, não se situa".
Combatente da Liberdade
"Aqui estamos - prosseguiu o Presidente da ABL - para a reafirmação das grandes obras de Nabuco, um ideário que se mostrou em livros, em tribunas e comícios de rua, em cátedras no estrangeiro, nas mesas de negociação internacional, no debate parlamentar, nas páginas de jornal, no instigante e revelador epistolário, na boca do povo".
Marcos Vilaça lembrou que, quando no Rio de Janeiro aconteceu a III Conferência Pan-americana, os delegados estrangeiros se espantaram com a popularidade de Nabuco. "Gilberto Freyre escreveu que, a partir daí, Nabuco passou a ser visto como o grande brasileiro do seu tempo e de todos os tempos. Alceu Amoroso Lima completaria: Nabuco foi a imagem mais fulgurante do humanismo brasileiro e a mais harmoniosa da nossa história cultural".
"Joaquim Nabuco, como um operador da transformação social, trouxe o povo para o combate pela liberdade. Não o contentava apenas o abolicionismo como mudança, queria a verdadeira transformação. E disse: "Acabar com a escravidão não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão" e implementar "a democratização do solo".
Vilaça recordou que a ABL é, em grande parte, o contraste entre dois homens inseparáveis: Machado de Assis, o humilde que se faz aristocrata das letras, e Nabuco que, pertencendo à hierarquia do Império, se fez humilde para melhor escutar os gritos de liberdade".
"Explica-se que a Academia registre o centenário de morte de Joaquim Nabuco com permanente curiosidade e completa empatia, tal como faz em relação a Machado de Assis - explicou Vilaça, recordando: "Estamos a promover ciclos de conferências em Roma, Bolonha, Washington, Londres, Lisboa, reedições de algumas de suas obras. Buscamos ampliar no mundo inteiro o conhecimento de sua obra; fomos nos curvar reverentes no Recife e em Massangana, onde ouvimos as badaladas da capela de São Mateus.
Nabuco Republicano
O Acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti abordou aspectos do "drama interno vivido por Nabuco ao longo de sua vida: havia nele uma predisposição para aceitar certos valores republicanos que nele não se consolidava porque não queria ver abalada sua fé monarquista".
Adiante, afirmou: "O que sustenta o monarquismo de Nabuco é o reconhecimento da inexistência objetiva de condições para o exercício da democracia republicana no Brasil". O Acadêmico historiou a trajetória nabuqueana, inclusive sua relevante atuação diplomática: "Tinha a clara noção do papel da República de aproximar não apenas o Brasil, mas toda a América Latina dos Estados Unidos, ou pelo menos dos Estados Unidos que via representado em figuras lendárias como Abraham Lincoln, em cujas celebrações do centenário fala mesmo da construção de uma "unidade moral" entre as nações do continente".
24/11/2010
24/11/2010 - Atualizada em 24/11/2010