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ABL na mídia - Valor Econômico - ‘A arte é mais expressiva quando expõe uma opinião’, diz Heloísa Teixeira, imortal da ABL

 

“Rebeldes e Marginais: Cultura nos anos de chumbo” é uma viagem no tempo sentindo o calor da hora. É compartilhada por quem viveu e pesquisou intensamente os anos 60/70, décadas em que a cultura enfrentou a ditadura. Heloisa Teixeira, pela primeira vez assinando um livro com o sobrenome da mãe - em substituição ao Buarque de Hollanda do marido -, a
 
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Tudo isso e mais a memória pessoal da autora, parte da turma de artistas que, nos palcos, participava dos festivais de música, de shows, exposições, peças e filmes. Ela estava sempre nessas plateias, em lugar de destaque e de minissaia, como convinha. Agora, na casa dos 80, já imortal e eventualmente de fardão, decidiu compartilhar suas fontes.

Das gavetas dela saíram escritos da vida toda - selecionou um pedacinho da tese, um artigo publicado, uns trechos de livros. Pensando nos 60 anos dos anos 60, juntou tudo num único textão, mas, ao reler, odiou: achou o tom certo - tinha uma urgência, captava o clima do momento -, porém a paixão intensa e uma certa ingenuidade o deixava quase ridículo.

“Fiz uma minimaquiagem. Tive de limpar os textos porque eram muito dogmáticos, estudantis, muito jovem e muito bobos. Mas deixei a quentura e o jeito de olhar da hora.”

E inventou uma moda. No fim do livro, lá está o código QR que dá acesso ao acervo sonoro dessa época. Exemplos? A última entrevista dada pelo artista Hélio Oiticica, a conversa com a conversa com José Celso Martinez sobre os bastidores da estreia de “O Rei da Vela” e “Roda Viva” nos anos 60, cenas do documentário “Novos Baianos Futebol Clube”, entre outras. Quando Heloisa descreve como o musical “Opinião” tornou-se um marco na cultura pós-1964, a análise pode ser acompanhada pela versão integral do espetáculo com Nara Leão e Zé Keti estreando na linha protesto e trazendo de volta o clima da época.  

“O raciocínio cultural que dá o tom nesse momento é a ideia de que a arte é mais expressiva quando expõe uma opinião”, sintetiza Heloisa. No livro, ela descreve o boom cultural sob o impacto do golpe militar e, mesmo depois do AI-5, o golpe dentro do golpe. A história dos Rebeldes começa com o lançamento do filme “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. no Veneza - cinema do Rio que não existe mais. Ao fim da sessão estavam todos estatelados, sem conseguir sair do cinema. E depois, falando sem parar, até a madrugada, sobre o que viram nas telas.

O filme termina com o protagonista levando um tiro e, com a metralhadora nas mãos, explica sua opção política, em um curto diálogo com a mulher: “A que serve a sua morte?”, ela pergunta. “É a vitória da beleza e da justiça”, responde. Heloisa analisa: “Ele falava do sonho e da impossibilidade daquele sonho. E era muita gente vivendo isso. O personagem principal é o retrato mais fiel do ethos da geração que se dividia entre a política e a poesia”.

Foi seguindo essa pista que ela revisita a ação da vanguarda artística na década de 60: o protagonismo do Cinema Novo, os happenings das artes, a Tropicália, a revolução do Teatro de Arena e do Oficina, os festivais de música, todos inventando uma resposta estética e política para resistir à ditadura. Envoltos nas utopias, intelectuais e artistas  intelectuais e artistas não anteviram o recrudescimento na chegada do AI-5. E o recrudescimento da ditadura. As lideranças políticas e os artistas deixam o país, a censura se instala e, assustados, muitos decretaram o vazio cultural.

Mas, ao contrário, explode a cultura marginal e, de novo, era lá que Heloisa estava. O estandarte emblemático de Oiticica sintetiza o espírito do tempo. “Seja marginal, seja herói”, em negro, em cima a figura de um homem morto, com sangue escorrendo. “O termo marginal ganha cores múltiplas: marginal da vida social e pública em função da violência."

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30/04/2024