O documentário Nelson Pereira dos Santos – Vida de cinema, dirigido por Ivelise Ferreira e Aída Marques, foi exibido nesta sexta-feira (19) na programação da mostra Cannes Classics do Festival de Cannes. O evento anual na cidade do sul da França, à beira do mar Mediterrâneo, é um dos mais importantes do cinema mundial.
“Depois de quatro anos de obscurantismo, de passarmos por uma pandemia, de montarmos o filme de forma remota, é realmente um grande prêmio estar em Cannes agora para a abertura da luz. Estamos voltando, o Brasil está voltando”, diz Ivelise Ferreira à RBA. A diretora foi casada com Nelson por quase 30 anos.
“As pessoas estão felizes aqui (em Cannes), gostam de falar português com a gente. O clima está muito bacana”, acrescenta. Ela conta que, exatamente durante os oito meses em que a equipe de produção de Vida de cinema separava o material para o filme, era época de confinamento da pandemia de covid-19.
O documentário é uma parceria da GloboNews, Globo Filmes e Canal Brasil, e concorre na categoria Cannes Classics. O longa resume a vida do autor de filmes fundamentais da cinematografia brasileira, como Rio, 40 Graus (1955), Boca de Ouro (1962), Vidas secas (1963) e O Amuleto de Ogum (1974), entre outros.
Cannes foi o festival que Nelson mais frequentou
Em 2006 Nelson Pereira foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira 7, cujo patrono é Castro Alves. Nascido em 22 de outubro de 1928 no bairro do Brás, em São Paulo, o diretor morreu aos 89 anos, em 21 de abril de 2018.
O filme de Ivelise e Aída é montado a partir de depoimentos de Nelson, em que fala de suas obras e do cinema em entrevistas e imagens de arquivo, e reproduz cenas marcantes de alguns de suas principais criações. A página oficial do Festival de Cannes no Twitter classifica a obra como “um emocionante documentário sobre o cineasta brasileiro na presença das codiretoras”. O perfil do evento diz que o filme é “fascinante”.
Ao jornal O Globo, Aída Marques – professora de Cinema e Audiovisual do curso fundado por Nelson na Universidade Federal Fluminense – afirmou que “Cannes foi o festival que Nelson mais frequentou”. Por isso, de acordo com ela, era “o lugar ideal para fazer a primeira apresentação do filme”.
Vidas Secas é considerada principal obra de Nelson Pereira dos Santos
Nelson concorreu várias vezes à Palma de Ouro na cidade francesa, um dos prêmios mais importantes da Sétima Arte. Em uma de suas presenças no festival, ele levou Vidas secas, considerado por muitos críticos seu principal filme e um dos mais importantes da história do cinema nacional.
Baseado no livro de Graciliano Ramos, mostra o cotidiano de uma família do sertão nos anos 1940. Em entrevista a este repórter, publicada na revista Cult em 2002, o diretor explicou que em 1958, como produtor de documentários, conheceu os “flagelados (do Nordeste), que só conhecia pela literatura ou noticiário de jornal”.
A partir de então, contou, ficou obcecado por fazer um filme sobre o tema. “Tentei escrever alguns roteiros, e eu tinha como livro de consultas Vidas Secas, e aí lá pelas tantas a conclusão veio, o óbvio: o filme está escrito por Graciliano, é só filmar”.
22/05/2023