Com sua paixão pela literatura brasileira (e portuguesa), o crítico literário italiano Giovanni Ricciardi (1937-2023) lembrava-me Luciana Stegagno Picchio, autora de uma história da literatura do país de Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Yêda Schmaltz, José J. Veiga, Miguel Jorge e Lygia Fagundes Telles. Mas, diferentemente de outros críticos, não circunscrevia sua crítica aos autores canônicos e, em geral, das regiões “centrais” do país.
Giovanni Ricciardi andou pelo país, não em busca de fotografias de edifícios ou praias, e sim da literatura (cultura) produzida nos Estados. Circulou por Goiás, por exemplo, e divulgou escritores do Estado, como Bernardo Élis. Ele fez dezenas de entrevistas com escritores patropis, buscando apreender tanto o significado de suas obras quanto mostrar como elaboravam sua prosa e sua poética. Será difícil escrever livros sobre os bastidores da escritura de vários brasileiros sem consultar seus livros.
Nos últimos tempos, Giovanni Ricciardi divulgava vários de seus textos e entrevistas no Facebook, onde criou uma legião de amigos conhecidos e desconhecidos — aos quais atendia com generosidade e presteza, publicamente ou no in box.
Apesar de sua importância para a literatura brasileira, da qual foi um dos maiores divulgadores, a imprensa patropi praticamente não deu destaque à sua morte, aos 86 anos, ocorrida na segunda-feira, 21 — em agosto, este mês sempre selvagem. No Facebook, escritores deram depoimentos — e só. Giovanni Ricciardi teve um AVC, chegou a ser internado, mas não resistiu.
O secretário-geral da Academia Brasileira de Letras (ABL), o crítico Antonio Carlos Secchin, disse sobre Giovanni Ricciardi: “Foi um grande amigo da literatura brasileira e em especial dos escritores, que o levaram a fazer centenas de entrevistas. Um precioso material de referência, já publicado. Destaque-se o grande número de acadêmicos com quem conversou. Ele se preparava para, no dia 5 de setembro, fazer uma comunicação sobre sua amizade com membros da ABL. Infelizmente, faleceu antes, mas pelo menos teve a grande alegria de ter sido eleito, por unanimidade, para sócio correspondente da Casa”.
Pelo tanto que fez pela literatura do país, Giovanni Ricciardi merece estátua em praça pública. Seria uma homenagem justa a um intelectual que amava o Brasil e, com seus livros, o explicava para estrangeiros e, sim, para brasileiros.
Matéria na íntegra: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/morre-giovanni-ricciardi-o-critico-italiano-que-mais-divulgou-a-literatura-brasileira-524277/
28/08/2023