Em uma cerimônia histórica realizada no sábado (6), Ailton Krenak se tornou o mais novo imortal e o primeiro indígena a integrar a Academia Brasileira de Letras.
"Não esperava que a minha trajetória de militante me levasse a Academia Brasileira de Letras aos 70 anos", afirmou em entrevista a Natuza Nery. "Assim como não esperava, também nessa idade, receber um pedido de desculpas do Estado brasileiro, que sempre agiu em relação ao povo indígena de uma maneira colonizadora e cruel."
Na terça-feira (2), a Comissão da Anistia aprovou, em um gesto inédito, dois pedidos de perdão a povos indígenas que foram perseguidos pela ditadura militar.
A presidente da Comissão, Eneá Almeida, ajoelhou para pedir perdão aos povos originários. O Estado reconheceu que os Krenak, de Minas Gerais, e os Guarani Kaiowá, da Terra Indígena Guyraroká, em Mato Grosso do Sul, foram perseguidos e expulsos de suas terras durante o período da ditadura militar. Também citam casos de tortura física e prisões indevidas. Um cenário, que segundo eles, levou fome e morte aos indígenas.
"Nós já fomos nesse país uma constelação de povos. Darcy Ribeiro reporta que até o século 18 eram 900 etnias. Hoje reconhecidamente somos menos de 300. Dois terços dessa humanidade foi extinta", relembrou Krenak ao podcast O Assunto. "Um pedido de desculpa circunstancial é muito pouco diante da tragédia que é a relação do Estado colonial brasileiro com a sociedades indígenas [...] É um bom começo."
Autor de diversos livros como "Ideias para adiar o fim do mundo", "A vida não é útil" e "O Amanhã não está à venda", teve obras traduzidas para mais de dez países. O poeta, filósofo e ativista da causa indígena assumiu a cadeira de número cinco, que já pertenceu a nomes como Oswaldo Cruz e Rachel de Queiroz.
Entrevista completa no podcast "O Assunto", do G1: https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/
09/04/2024