Revelado na transição entre os anos 1990 e 2000, o poeta carioca Carlos Cardoso é um dos grandes nomes da sua geração e já teve os seus poemas traduzidos e publicados em onze idiomas. Reconhecido por acadêmicos, artistas e escritores por sua potência estética, Cardoso concorre à Cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL), na eleição marcada para 11 de dezembro. A vaga foi deixada pelo também poeta Antonio Cicero, que faleceu no dia 23 de outubro deste ano.
Ao comentar sobre a obra de Carlos Cardoso, em 2023, Antonio Cicero demonstrou a sua profunda admiração pelo colega: “Todo grande poeta, quando lido, transporta a gente para a terceira dimensão da vida, que é a dimensão transcendente da arte. Carlos hoje é um dos grandes”, disse Cícero, em uma de suas últimas manifestações públicas.
Carlos Cardoso não desconhece a grande responsabilidade de ocupar a cadeira deixada por Cícero tampouco o grande papel que desempenha a Academia Brasileira de Letras no cenário nacional.
“Com minha experiência como engenheiro e gestor, somada à minha paixão pela literatura, espero humildemente contribuir para ampliar a atuação da ABL entre as mais variadas gerações, preservando e valorizando a riqueza da poesia na língua portuguesa”, afirmou o escritor
O poeta, que circula com prestígio por países, como: França, Itália, Espanha, Bulgária e Croácia, conquistou notoriedade por abordar em sua poesia temáticas sobre a natureza, o desamparo, a amizade, a própria arte poética, o amor e a solidão. Seu último livro, “Coragem”, lançado em setembro de 2023 pela editora Record, está sendo roteirizado para o teatro pelo dramaturgo e encenador Flávio Marinho. Com estreia prevista para o ano que vem, a peça será intitulada: “Coragem – Uma Questão de Amor”.
Em sua poética, Carlos Cardoso defende que a escrita deve acompanhar a experiência subjetiva do mundo. “O poeta deve incitar a reflexão nas pessoas ou provocar uma fagulha que leve ao questionamento sobre como estamos e como podemos nos tornar melhores a cada dia”, afirmou.
Graduado em engenharia, Carlos Cardoso se apaixonou pela poesia na adolescência, tendo escrito os seus primeiros poemas aos 14 anos. Alguns deles estão reunidos no livro “Sol Descalço”, relançado em 2021 pela Record. As suas últimas três décadas de vida têm sido dedicadas ao ofício da escrita, elogiada pelo professor e crítico literário Ítalo Moriconi:
“O lirismo de Carlos Cardoso é moderno. Ele tem um controle muito grande do ritmo, são frases com uma pontuação, uma modulação sonora, que revelam um grande talento para a linguagem poética. Alguns dos seus poemas integram o que há de melhor na poesia contemporânea brasileira”, comentou Moriconi.
Com apenas 50 anos, Carlos Cardoso é um expoente da sua geração, tendo conquistado prêmios importantes, entre eles o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo livro “Melancolia”; a premiação especial na Jornada Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento entre os povos, da UNESCO; e o Prêmio La Palma D’Oro di Assissi-Pax, Itália.
Obras:
Na Pureza do Sacrilégio (2017): O livro reúne diversos poemas que oferecem ao leitor experiências originais. A publicação chegou às livrarias chancelada por Antonio Cicero e Silviano Santiago, que lhe dedicaram textos elogiosos. “A escrita poética desnuda a pureza pelo sacrilégio para purificá-la ainda mais, desnuda o sacrilégio pela pureza para conspurcá-lo ainda mais”, definiu Santiago, que citou Fernando Pessoa, Octavio Paz e João Cabral de Melo Neto para apresentar o livro ao leitor. Marco divisor na trajetória do poeta, “Na Pureza…” também é composto por várias imagens de quadros produzidos pela artista plástica Lena Bergstein inspirados em suas estrofes. Fruto de um longo processo de quase dois anos, o livro sedimentou um novo caminho, segundo Cardoso, transformador em sua vida, afirmando um novo horizonte em sua trajetória na escrita.
Melancolia (2019): Livro premiado pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e pela UNESCO (Jornada Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento entre os povos). Publicado pela Editora Record, ele traz poemas que dialogam com as artes plásticas. A capa foi feita pelo pintor e escultor Carlos Vergara. Considerado um dos destaques da sua geração, ele transforma a própria melancolia, um zeitgeist de nossos dias, em poesias inéditas. Aqui, a relação com a poesia é visceral, é a marca da própria sobrevivência. Em suas páginas, a melancolia se revela em palavra. A poesia é capaz de ritualizar sentimentos em um mundo sem começo e fim, marcado pelo assombro de sua geração diante das transformações de um universo em crise. É uma busca fluida, necessária, com consistência, que revela um poeta em seu ofício.
Sol Descalço (2021): Publicado pela Editora Record, o livro continua a exploração de temas existenciais e a relação do poeta com a natureza e a arte. Sua capa foi criada pelo pintor e escultor José Bechara. Com poemas minimalistas, que revelam forte conexão entre si, Carlos Cardoso foi apontado como um dos maiores expoentes da poesia em sua geração por diferentes vozes da crítica. O que se lê é um poeta que não luta contra as palavras. Sua poesia traz fontes sacrílegas e religiosas, dentro de um universo de despojamento, transparência – descalço, como o título sugere. Se o autor já havia revelado sua maturidade em “Melancolia”, seu “Sol Descalço” deslinda, em várias camadas, a evolução de sua relação com a poesia.
Coragem (2023): O mais recente livro de Cardoso, também publicado pela Editora Record, aborda temas como amor, resistência e resiliência, refletindo sobre os desafios da vida e a força necessária para enfrentá-los. A capa foi feita pelo artista plástico Daniel Senise. Seu miolo é recheado de poemas em constante tensão. Num paradoxo, o poeta que conquistou sensibilidades ao confrontar o sacrílego e o sagrado, e desnudou os sentimentos de seu tempo em palavra, utiliza-se do lirismo e de apuro visual para estabelecer um diálogo com grandes nomes da poesia na modernidade. “Coragem”, em vez de um contraponto ao sentimento desnudado em “Melancolia”, revela uma nova força que habita a escrita de seu autor. Ao pensar sobre seus versos, Antonio Carlos Secchin explicou: “O poema perambula, mas tudo permanece intacto – eis a lição da poesia”.
Matéria na íntegra: https://diariodorio.com/poeta-carlos-cardoso-tera-livro-roteirizado-e-encenado-pelo-dramaturgo-flavio-marinho/
19/11/2024