O estilo é o neoclássico. Assim deve ser apreciado o Petit Trianon, cedido pelo governo da França à ABL e que está completando os primeiros 100 anos como sede da Academia Brasileira de Letras.
A primeira sessão, sob a presidência de Afrânio Peixoto, foi realizada no dia 13 de dezembro de 1923. Foi a primeira sede própria da ABL. Segundo o presidente Merval Pereira, "o prédio é muito adequado para os rituais da ABL. Além do que ele é muito bonito".
Na sua Biblioteca Lúcio de Mendonça há 20 mil livros, especialmente as obras dos 300 imortais que por ali passaram. Há obras raras de diversos imortais, inclusive do seu primeiro presidente, que foi Machado de Assis. Como presidente da ABL, nos anos de 98 e 99, inaugurei a Sala Machado de Assis, no 2º andar, em que foram alojados móveis e objetos que marcaram a vida do autor de "D. Casmurro". O local é muito apreciado nas visitas guiadas que são feitas semanalmente para estudantes fluminenses.
Ao ser perguntado sobre os fatos marcantes dessa vida centenária, lembrei a visita de Lula, no seu primeiro mandato presidencial, quando foi assinado o importante acordo de unificação ortográfica da nossa língua. Foi um documento histórico. Dos meus 40 anos de vida acadêmica, talvez este tenha sido um dos momentos de maior relevo, pois não é a toda hora que se recebe um presidente da República. Aliás, vale referir que foram três os que pertenceram aos quadros da imortalidade: Getúlio Vargas, Jose Sarney (hoje, o decano) e Fernando Henrique Cardoso.
O historiador e acadêmico Arno Wehling ressaltou o que representa a ABL e o seu prédio histórico para a vida brasileira. "A despeito de todas as mudanças sociais, econômicas e tecnológicas que aconteciam no início do século XX, os discursos centenários ressaltavam a ideia de tradição, o que para nós é um fator verdadeiramente essencial." E mais: "A Academia deveria representar a permanência, a estabilidade num mundo cada vez mais convulsionado." Esta é a característica de grande relevo da casa que abrigou presidentes como Austregésilo de Athayde, Josué Montello, Alberto da Costa e Silva e Nélida Piñon, entre outros.
*da Academia Brasileira de Letras e Presidente Emérito do CIEE/RJ
Artigo na íntegra: https://www.correiodamanha.com.br/opiniao/2023/12/108203-arnaldo-niskier-os-100-anos-do-petit-trianon.html
02/01/2024