normótico adj. s.m. (pessoa normótica, comportamento normótico)
Tendência a seguir de forma extrema, por vezes irrefletida, hábitos e padrões de comportamento considerados normais pela sociedade, independentemente do prejuízo que causam para a saúde e o bem-estar. (Por exemplo: uso de alimentos com agrotóxicos, consumismo exacerbado, sujeição a ideais rígidos de beleza, etc.).
[O termo foi cunhado pelo psicólogo e antropólogo brasileiro Roberto Crema, pelo filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Ives Leloup e pelo psicólogo francês Pierre Weil, na década de 1980.]
[De norm- (latim norma, ae ‘regra, padrão’) + -ose ‘processo patológico, doença’.]
“Afinal, será que ser normal – e achar normais coisas que não deveriam ser – pode ser uma doença? Segundo alguns psicólogos, sim. A doença de ser normal chama-se, segundo eles, normose: um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social [e] que, na realidade, são patogênicos em graus distintos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida. O conceito foi cunhado quase que simultaneamente pelo psicólogo e antropólogo brasileiro Roberto Crema e pelo filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Ives Leloup, na década de 1980. Eles vinham trabalhando o tema separadamente até que um terceiro psicólogo, o francês Pierre Weil, se deu conta da coincidência. Perplexo, Weil conectou os dois, e os três juntos organizaram um simpósio sobre o tema em Brasília, uma década atrás. Do encontro, nasceu uma parceria e o livro Normose: A patologia da normalidade.”1
“A sociedade moderna, com o corre-corre, a falta de tempo para o cuidado espiritual e o imediatismo, fez com que as pessoas desenvolvessem com mais facilidade algumas doenças psicossomáticas. O pânico e a depressão são duas delas, assim como a normose. A última é uma ‘prima’ menos conhecida e, por isso mesmo, menos identificada, segundo especialistas. ‘Ela (normose) surge quando o sistema no qual nós existimos encontra-se dominantemente doente, desequilibrado, corrompido, e quando predomina a violência, a competição e o egocentrismo. Uma pessoa adaptada a esse sistema está doente’, explica o psicólogo e antropólogo Roberto Crema, um dos especialistas do assunto no Brasil e que estará em Brasília no fim do mês para uma palestra sobre a área.
O normótico é aquele indivíduo acomodado em uma vida normal, cheia de padrões, e que segue o rebanho pelo simples fato de ser um senso comum. ‘É um alguém que não se diferencia’, complementa Crema.”2
“‘Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal, e fazer tudo igual’, cantava, em tom de enfado, o maluco beleza Raul Seixas, na década de 1970. A letra composta em parceira com Cláudio Roberto é uma das muitas críticas do roqueiro à suposta normalidade social. Poucos anos depois do lançamento da música, três psicólogos, o brasileiro Roberto Crema e os franceses Jean-Ives Leloup e Pierre Weil, cunharam o termo ‘normose’ para classificar um conjunto de conceitos, normas e hábitos sociais considerados normais, mas que podem levar a patologias como a depressão e a perda da vontade de viver. Mas em que nível ‘ser normal’ é uma doença? Segundo Crema, quando o indivíduo tenta adequar-se ao sistema vigente, passando por cima de seus desejos e convicções, é um sinal de alerta. Não à toa, há cada vez mais pessoas infelizes com o estilo de vida que seguem, através de uma escolha nem sempre consciente, pautada muito mais pelo medo de julgamentos do que por sua vontade real. É o caso de alguém que escolhe uma profissão com garantia de estabilidade financeira, por exemplo, ou por pressão da família, e deixa de levar em conta qual atividade realmente lhe traria satisfação e, consequentemente, uma vida mais plena.”3
“Normose é um termo que foi forjado por Jean Yves Leloup2 na França, e por Roberto Crema3, no Brasil. Juntamente com o primeiro, ou separadamente, publicamos uma série de artigos, visando a definir o termo normose4,5,6. Eis um resumo sucinto destes ensaios. Normose é o resultado de um conjunto de crenças, opiniões, atitudes e comportamentos considerados normais, logo em torno dos quais existe um consenso de normalidade, mas que apresentam consequências patológicas e/ou letais. Alguns exemplos de normoses: usos alimentares como o açúcar, o uso de agrotóxicos e inseticidas, o consumo de drogas como o cigarro ou o álcool, o paradigma newtoniano cartesiano e a fantasia dualista sujeito-objeto em ciência, o consumismo associado à destruição da vida no planeta.”4
“A característica comum a todas as formas de normoses é seu caráter automático e inconsciente. Podemos falar do espírito de rebanho. A maior parte dos seres humanos, talvez por preguiça e comodidade, segue o exemplo da maioria. Pertencer à minoria é tornar-se vulnerável, expor-se à crítica. Por comodismo, as pessoas seguem ou repetem o que dizem os jornais; já que está impresso, deve estar certo! Quantas pessoas aderem a uma ideologia, religião ou partido político só porque está na moda ou para serem bem vistas pelos demais? Uma maneira disfarçada de manipular opiniões e mudar os sistemas de valores é anunciar que são adotados pela maioria da população. Nesse sentido, toda normose é uma forma de alienação. Facilita a instalação de regimes totalitários ou sistemas de dominação.”5
WEIL, Pierre; LELOUP, Jean-Yves; CREMA, Roberto. Normose: a patologia da normalidade. Petrópolis: Vozes, 2014. 240 p.
1 BERGIER, Carolina. A doença de ser normal. Superinteressante, 31 out. 2016. Saúde. Disponível em: https://super.abril.com.br/saude/a-doenca-de-ser-normal/. Acesso em: 8 mar. 2022.
2 CORREIO BRAZILIENSE. Normose, um distúrbio da vida moderna que pode ser curado com terapia. Correio Braziliense, 28 set. 2021. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/02/08/int.... Acesso em: 8 mar. 2022.
3 PINTO, Ana Carolina. Querer ser ‘normal’ pode ser uma patologia; entenda o que é a normose. Extra, 7 dez. 2014. Saúde e Ciência. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/querer-ser-normal-pode-.... Acesso em: 8 mar. 2022.
4 WEIL, Pierre. A normose informacional. Revista IBICT, Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 2, p. 61-70, maio/ago. 2000. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/888/923. Acesso em: 8 mar. 2022.
5 LIVRARIA DA FOLHA. Para autores, agir dentro do esperado leva à destruição. Folha de S.Paulo, 27 jul. 2011. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/949054-para-autores-agir-d.... Acesso em: 10 mar. 2022.