infodêmico adj. (gestão infodêmica)
Denominação dada ao volume excessivo de informações, muitas delas imprecisas ou falsas (desinformação), sobre determinado assunto (como a pandemia, por exemplo), que se multiplicam e se propagam de forma rápida e incontrolável, o que dificulta o acesso a orientações e fontes confiáveis, causando confusão, desorientação e inúmeros prejuízos à vida das pessoas. [Radical info- (deduzido de informação) + -demia (do grego dêmos ‘povo’ + o sufixo -ia, formador de substantivos da terminologia médica), pelo inglês infodemic.]
“Há uma verdadeira infodemia sobre o coronavírus no Brasil. 94% dos brasileiros entrevistados viu, pelo menos, uma das notícias falsas sobre a Covid-19 mostradas na pesquisa. Cerca de 80% viu duas ou mais das notícias falsas apresentadas e quase 60% viu ao menos três, com 6% dos brasileiros tendo visto todas as sete notícias falsas apresentadas no estudo.”1
“O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez uma declaração sobre a COVID-19, de que ‘nosso inimigo é também a onda cada vez maior de desinformação’. Já no dia 2 de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu como uma ‘infodemia massiva’, que está impedindo o acesso a fontes fidedignas e confiáveis de informação.”2
“Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já listava a ‘hesitação em relação às imunizações’ entre os 10 maiores desafios de saúde pública global, após o número de casos de sarampo triplicar no mundo, em relação a 2018. Segundo a OMS, esta hesitação, fruto da desinformação e compartilhamento das chamadas fake news, ‘ameaça reverter o progresso feito no combate às doenças evitáveis por meio de vacinação’. Durante a pandemia da COVID-19, estes grupos não retrocederam – e o estrago que fazem colabora para o que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) definiu como ‘infodemia’, a pandemia da desinformação.”3
“‘O presidente dos EUA foi provavelmente o maior vetor da infodemia de desinformação da covid-19’, concluem os pesquisadores. Um exemplo – no caso, relativo a ‘curas milagrosas’ – foi a defesa de [Donald] Trump da hidroxicloroquina, que despertou uma quantidade substancial de cobertura de mídia, levando à subsequente escassez da droga – utilizada no tratamento da malária e do lúpus – e logo à descoberta de que ela é ineficaz e mesmo nociva aos contaminados pela covid-19.”4
“O pior da infodemia é que nem sempre a origem de uma informação é falsa. Mas sim seu desdobramento. – Se temos algum assunto que seja mais preponderante, se aumenta o número de publicações, posts e no meio disso muitas coisas são falsas. Tem as que são parcialmente verdadeiras, mas as conclusões não são as mais acertadas. A pessoa deliberadamente se aproveita de uma informação correta para disseminar algo incorreto. (...) –lembrou [o doutor] Walter [Taam].”5
O vocábulo inglês infodemic foi cunhado pelo cientista político e jornalista David J. Rothkopf em seu artigo “When the Buzz Bites Back”, publicado no jornal The Washington Post, em 11 de maio de 2003, em meio à epidemia da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave).
No início de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) utilizou o termo infodemia para se referir à “propagação em massa de informações, muitas delas falsas, sobre a pandemia do coronavírus”.
Mais adiante, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) classificou a avalanche de desinformação sobre a pandemia do novo coronavírus como “desinfodemia” e publicou dois informes, ou resumos de políticas, sobre o tema, em parceria com o ICFJ (International Center for Journalists): “Disinfodemic: Deciphering Covid-19 disinformation” e “Disinfodemic: Dissecting responses to Covid-19 disinformation” (Dra. Julie Posetti, diretora global de pesquisa do ICFJ e pesquisadora sênior afiliada ao Centro de Liberdade de Mídia da Universidade de Sheffield [CFOM] e à Universidade de Oxford, e Prof.a Kalina Bontcheva, professora de ciência da computação na Universidade de Sheffield e membro do CFOM). O termo “desinfodemia” foi cunhado por estas duas pesquisadoras por considerarem a desinformação relacionada à Covid-19 mais tóxica e mortal do que qualquer outra, uma vez que coloca em risco sociedades inteiras.
INFODEMIA. In: ISTITUTO TRECCANI. Vocabolario Treccani. Disponível em: https://www.treccani.it/vocabolario/infodemia_(Neologismi)/. Acesso em: 6 dez. 2020.
INFODEMIC. In: OXFORD UNIVERSITY PRESS. Oxford English Dictionary. Disponível em: https://www.oed.com/view/Entry/88407009. Acesso em: 6 dez. 2020.
1 GALHARDI, Raul. Países sofrem ‘epidemia de desinformação’ em meio à pandemia. Observatório da Imprensa, 1 set. 2020. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/desinformacao/paises-sofrem-epi.... Acesso em: 6 dez. 2020.
2 UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Combate à desinfodemia: trabalhar pela verdade em tempos de COVID-19. Disponível em: https://pt.unesco.org/covid19/disinfodemic. Acesso em: 6 dez. 2020.
3 SCHUELER, Paulo. Bio-Manguinhos/ Fiocruz. A pandemia da desinformação. Notícias e Artigos, 31 ago. 2020. Disponível em: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1883-a-pandemia-da-desi.... Acesso em: 6 dez. 2020.
4 AS FONTES da ‘infodemia’. O Estado de S.Paulo, 6 out. 2020. Opinião. Notas e informações. Disponível em: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,as-fontes-da.... Acesso em: 6 dez. 2020.
5 REDAÇÃO ND. Infodemia: o mal que causa estragos na luta contra a Covid-19 e pode até matar. Entenda! ND+, Florianópolis, 24 jul. 2020. Disponível em: https://ndmais.com.br/saude/infodemia-o-mal-que-causa-estragos-na-luta-c.... Acesso em: 6 dez. 2020.