docuficcional adj.2g. (filme docuficcional)
1. Obra audiovisual de caráter híbrido, que apresenta ao mesmo tempo características típicas do documentário tradicional (como registros de eventos da vida real) e elementos imaginários próprios das narrativas de ficção.
2. Gênero deste tipo de obra.
“Como o próprio nome sugere, o docuficção é um tipo de documentário que também se aproxima da ficção, circulando entre os dois sem ser nem um, nem outro. Esses filmes costumam utilizar como base uma realidade, um acontecimento verdadeiro, mas inserem diversos tipos de elementos ficcionais a sua narrativa, prejudicando sua precisão histórica e criando efeito tramático. Não deve ser confundido com o docudrama, que é a recriação de um acontecimento para fins ilustrativos, comumente adotado por telejornais e reportagens quando não há filmagens reais do acontecimento. Um dos maiores filmes do cinema nacional, Cidade de Deus (2002), é considerado uma docuficção por retratar a realidade dos crimes do Rio de Janeiro por meio de personagens e situações ficcionais.”1
“Um programa de rádio de serviço público italiano chegou a reunir histórias de vida de seus ouvintes por meio de mídias sociais e as transformou em uma série de docuficção. Entre 2015 e 2019, a Rai Radio 2 veiculou Pascal, um programa que solicitava aos ouvintes que contribuíssem com histórias verdadeiras baseadas em suas próprias vidas. As histórias eram revisadas por pares, selecionadas e transformadas em breves episódios de docuficção. Atualmente, os ouvintes são mais articulados e mais ‘barulhentos’ do que no passado, produzindo, mais do que nunca, conteúdo em forma de mensagens de áudio, vídeo e texto.”2
“Nos últimos tempos, muito se discutiu no meio cinematográfico sobre esse gênero de filme, principalmente depois que o filme The Act of Killing, dirigido por Joshua Oppenheimer, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário. O filme conta a história de Anwar Congo e Adi Zulkadry, que nos anos 1960 mataram pessoalmente mais de mil pessoas no norte da Sumatra. Detalhe: são os próprios personagens que reencenam suas memórias com personagens fictícios. Os termos ‘Docudrama’ ou ‘Docuficção’ são consagrados no meio cinematográfico e há registros de filmes do gênero desde os anos 1920, como Moana, de Robert Flaherty (EUA, 1926). Cléber Eduardo, curador da Mostra de Tiradentes, garante que desde 2008, mais ou menos, é mais comum a entrada desse tipo de filmes no festival. ‘Quando o digital vem ganhando força e a película deixou de ser uma exigência, esses filmes vêm ganhando mais força’, diz ele. Por isso, defende que deveria haver edital específico que contemplasse o hibridismo de forma objetiva.”3
“Para comemorar os 20 anos de carreira da cantora Ivete Sangalo, a ‘Baianada Cultural’ [centro de produção de dramaturgia voltada para as mídias virtuais] produziu um docuficção, intitulado ‘Eternamente Fã – Ivete Sangalo’. O longa é uma homenagem produzida de forma independente, que ilustra a trajetória da musa da Bahia. Dividido em duas partes, o filme começa em 1992, quando a artista ganha o troféu Caymmi de cantora revelação e desponta para o cenário nacional ao entrar na Banda Eva. A primeira parte termina com sua saída do grupo, em 1999. O roteiro, escrito por Daniel Sena, mostra a visão dos fãs em torno da carreira de uma das celebridades mais populares do país. O vídeo está disponível no Youtube desde a última terça-feira (29), dois dias depois da musa completar 40 anos. Dirigido por Jullio Vaz, a primeira parte do docuficção conta com imagens raras de shows. Os fãs também participam ativamente do vídeo, contando a trajetória da baiana, construída através de músicas e de momentos marcantes de sua carreira, no período da Banda Eva.”4
“O termo ‘docuficção’ surgiu no início do século XXI e trata-se de um neologismo que designa uma obra cinematográfica híbrida cujo gênero se situa entre o documentário e a ficção. O gênero procura representar a realidade ao mesmo tempo que introduz na narrativa elementos ficcionais através de outras expressões artísticas. Em Bebela’s essa hibridização se dá entre modos complementares de representação: poético, observativo e participativo. A combinação desses diferentes modos de representação revela, sobretudo, a trajetória multifacetada de Bebela, que desempenha o seu próprio papel na vida real.”5
“O espetáculo revisita o filme Iracema, uma transa amazônica, dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna nos anos 1970. Hoje considerado uma das obras mais importantes do cinema experimental brasileiro, o ‘docuficção’ foi o primeiro a oferecer imagens alternativas do projeto de colonização da Amazônia levado a cabo pela ditadura militar, que apostou na construção da estrada Transamazônica para ocupar e desenvolver a região.”6
DOCUFICTION. In: ISTITUTO TRECCANI. Vocabolario Treccani. Disponível em: https://www.treccani.it/vocabolario/docufiction/. Acesso em: 19 set. 2021.
1 PÓSS, Karoline. Documentário, docuficção ou pseudodocumentário? Entenda a diferença! Cinema 10, 30 jun. 2019. Disponível em: https://cinema10.com.br/materias/documentario-docuficcao-ou-pseudodocume.... Acesso em: 17 set. 2021.
2 BONINI, Tiziano. Audiências de rádio: mais vocais do que nunca. Correio da Unesco, 2020-21. Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Disponível https://pt.unesco.org/courier/2020-1/audiencias-radio-vocais-do-que-nunca. Acesso em: 17 set. 2021.
3 DANTAS, Itamar. É ficção ou documentário? Cultura e Mercado, 28 mar. 2014. Disponível em: https://culturaemercado.com.br/e-ficcao-ou-documentario/. Acesso em: 17 set. 2021.
4 FIGUEIREDO, Fernanda. Ivete Sangalo ganha docuficção em comemoração aos seus 20 anos de carreira. Bahia notícias, 29 maio 2012. Disponível em: https://www.bahianoticias.com.br/holofote/noticia/24437-ivete-sangalo-ga.... Acesso em: 17 set. 2021.
5 REDAÇÃO PRETO NO BRANCO. Trajetória da atriz e historiadora Juazeirense Bebela é tema de documentário ficcional que será lançado nesta quarta (28). Preto no branco, 28 abr. 2021. Disponível em: https://pretonobranco.org/2021/04/28/trajetoria-da-atriz-e-historiadora-.... Acesso em: 17 set. 2021.
6 BEDRAN, Marina. Iracema fala, de Nuno Ramos: a arte no “front desse inesgotável pior”. Revista Rosa, n. 1, v. 4, 27 ago. 2021. Disponível em: https://revistarosa.com/4/iracema-fala. Acesso em: 26 out. 2021.