biomimético adj.2g. (design biomimético ), biomimetizado adj. (produto biomimetizado , estrutura biomimetizada ), biomimetizar v.
Área de pesquisa e aplicação científico-tecnológica que busca inspiração em matérias, substâncias e mecanismos da natureza para o desenvolvimento de projetos de engenharia, arquitetura, design, farmacologia, etc. (Pertence à biomimética, por exemplo, a idealização de trajes de natação que imitam a pele de tubarão para melhorar o desempenho de atletas.)
[De bio- + mimética (gr. mimētikós, ḗ, ón ‘capaz de imitar’), pelo ingl. biomimetics.]
“A biomimética começou a ser implantada de modo sistemático no mundo nos anos 1990, inicialmente focada em eficiência energética. Exemplos clássicos são edifícios no Zimbábue e na Austrália inspirados na circulação de ar em cupinzeiros e o princípio das nadadeiras das baleias aplicado à geração de energia eólica. Nos últimos anos, surgiram projetos como o das paredes antissépticas que imitam a pele dos tubarões. No Brasil, proliferam os cursos de imersão na Amazônia e no Cerrado concentrados na inovação de materiais, assim como o surgimento de consultores e startups de biomimética. Em 2018, a Nucleário tornou-se a primeira empresa brasileira a ganhar um prêmio concedido pelo Biomimicry Institute, graças à sua tecnologia para proteção de árvores em projetos de reflorestamento com base em princípios das sementes aladas e das bromélias.”1
“Ao lançar o livro Biomimética: Inovação Inspirada pela Natureza, em 1997 nos Estados Unidos e em 2003 no Brasil, Janine Benyus, bióloga norte-americana e uma das fundadoras do Biomimicry Institute, em Montana, EUA, foi a responsável por propagar a ciência que se desdobra em múltiplas aplicações. A biomimética auxilia áreas como a saúde – ao traçar, por exemplo, possíveis relações entre o veneno de uma vespa e novas terapias contra o câncer –, reproduz a tecnologia da teia de aranha para a indústria da beleza, oferece à engenharia melhorias na eficiência energética por meio da observação do cupinzeiro ou do bico do tucano, propõe utilizar raízes de cogumelos e resíduos agrícolas no lugar de embalagens de isopor e plástico, e dialoga muito bem com as novas tecnologias, a exemplo de aplicativos para facilitar a logística. Além disso, ela oferece fundamentos para trabalhar com desenvolvimento pessoal e comportamento humano.”2
“A biomimética surge então como um campo da ciência que ancora essa tessitura de um futuro regenerativo, baseado não no que podemos extrair da natureza, mas no que podemos aprender com ela. Segundo Janine Benyus, maior nome da biomimética hoje, quando começamos a ver a natureza como uma fonte de ideias em vez de uma fonte de bens, nosso respeito pela vida e sua capacidade de adaptação aumentam. Bem, e como podemos permanecer acordados para o mundo vivo? Como tornamos o ato de pedir conselhos à natureza uma parte normal da vida cotidiana?”3
“No Brasil, um dos estudiosos do assunto é o designer Fred Gelli, da agência Tátil Design, do Rio de Janeiro. Há 20 anos ele estuda o conceito e tenta aplicá-lo a embalagens, objetos e espaços físicos, que já lhe renderam vários prêmios de design. Agora, junto com a Fundação Getúlio Vargas de Curitiba, tem se dedicado a aplicar a biomimética ao mundo empresarial, em um núcleo batizado de Bionegócios. ‘De modo geral, a biomimética tem sido muito utilizada em razão de seus aspectos funcionais, como o prédio na África inspirado em um cupinzeiro’, diz Gelli (veja exemplo nesta página). Segundo ele, o projeto permitiu uma redução de 65% no consumo de energia do edifício. ‘A biomimética pode ser uma grande aliada na busca pela sustentabilidade, pois se inspira na natureza e não tenta subjugá-la’, diz. Outro exemplo de aplicação prática da biomimética na indústria é a borboleta do gênero Morpho. Sua estrutura de cristais que refletem a luz já foi utilizada pela indústria têxtil e serviu de inspiração para uma linha de maquiagem que será lançada pela multinacional de cosméticos L’Oreal.”4
“‘A biomimética é uma ponte entre a ciência e as demandas contemporâneas do mundo’, diz Alessandra Araújo, bióloga de formação, especialista em biomimética pela Universidade do Arizona e fundadora da consultoria Bio-Inspirations. Apesar da abordagem inovadora, a biomimética não é exatamente uma disciplina nova. Há quase dez anos, atletas de elite da natação já deslizavam na piscina vestindo maiôs feitos com material que imitava a pele de um tipo específico de tubarão. Ao reduzir o atrito do corpo com a água e dar um impulso extra para se deslocarem, o tecido permitia que os esportistas nadassem mais rápido com menos esforço. Outro exemplo surgiu décadas antes de a biomimética ser sistematizada como disciplina: um engenheiro suíço quis resolver um problema real que enfrentava no dia a dia e acabou inventando um material que até hoje facilita a vida de muita gente no mundo inteiro: o velcro. Leonardo da Vinci há mais de cinco séculos já produzia esboços de máquinas voadoras com base na observação da anatomia e do voo dos pássaros.”5
“O termo em inglês, biomimetics, surgiu nos anos 1950 com o acadêmico norte-americano Otto Schmitt, para descrever a transferência de ideias da biologia para a tecnologia. Mas foi apenas em 1974 que o vocábulo entrou para o Dicionário Webster. Em 1982, a palavra passou a ser usada como biomimicry. E em 1997, tornou-se popular com a cientista Janine Benyus em seu livro Biomimicry: Innovation Inspired by Nature (em português: Biomimética: Inovação Inspirada pela Natureza). Hoje, a biomimética se faz ainda mais necessária, uma vez que a humanidade enfrenta novos desafios, como o coronavírus, que evidenciam a sua própria vulnerabilidade. A resposta para esta e para futuras pandemias pode estar justamente na natureza. Não por acaso, a biomimética atualmente está presente não só na ciência, mas em áreas como engenharia, arquitetura, medicina, aeronáutica, tecnologia, design, mobilidade urbana, produção de energia limpa e até em setores sociais, econômicos e de gestão.”6
“‘A ideia é olhar para a natureza como modelo, medida e mentora dos nossos projetos. Com a biomimética, é possível procurar soluções eficazes e eficientes que sejam sustentáveis’, afirma [Giane] Brocco. Além de sustentável, a especialista afirma que a biomimética também tem tudo a ver com consumo consciente, especialmente quando se trata da economia circular, em que os produtos devem ter um ciclo completo sem desperdícios, tal qual acontece no meio natural. ‘A natureza só consome o necessário, não esgota os recursos. E ao descartar o que não precisa mais, esse rejeito vira adubo, ou seja, ajuda a alimentar o ecossistema em que está inserido. Ela nos ensina a repensar nossa forma de produzir, consumir e descartar.’”7
BIOMIMETICS. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/biomimetics. Acesso em: 19 jan. 2022.
PROCESSO biomimetico. In: ISTITUTO TRECCANI. Vocabolario Treccani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/processo-biomimetico/. Acesso em: 19 fev. 2022.
1 ZANON, Sibélia. Biomimética: tecnologia inspirada na natureza avança no Brasil. Mongabay, 18 mar. 2020. Disponível em: https://brasil.mongabay.com/2020/03/biomimetica-tecnologia-inspirada-na-.... Acesso em: 10 fev. 2022.
2 Idem, Ibidem.
3 BOEIRA, Juan Pablo D. Biomimética: inovação inspirada pela natureza. Época, 29 out. 2020. Colunas. Changemaker. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/colunas/Changemaker/noticia/2020/10/biom.... Acesso em: 17 fev. 2022.
4 VIALLI, Andrea; GONÇALVES, Alexandre. Natureza aplicada à vida cotidiana. O Estado de S.Paulo, 21 nov. 2010. Disponível em: https://www.estadao.com.br/noticias/geral,natureza-aplicada-a-vida-cotid.... Acesso em: 17 fev. 2022.
5 DI DOMENICO, Marcia. Biomimética: copiar a natureza pode gerar bilhões em novos negócios. VC S/A, 19 dez. 2019. Mercado e Vagas. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/geral/biomimetica-um-novo-negocio-para-organ.... Acesso em: 17 fev. 2022.
6 AKATU. Biomimética: a resposta está na natureza. Akatu, 28 maio 2020. Disponível em: https://akatu.org.br/biomimetica-a-resposta-esta-na-natureza/. Acesso em: 17 fev. 2022.
7 Idem, Ibidem.