audista adj.2g. s.2g. (comportamento audista)
1. Discriminação e preconceito contra pessoas surdas, com base no padrão da capacidade de ouvir.
2. Prática que consiste em conferir a pessoas surdas tratamento desigual (desfavorável ou exageradamente favorável), baseando-se na crença equivocada de que elas são menos aptas às tarefas da vida comum.
[Ocorrem também os termos ouvintismo e surdismo.]
“O audismo/ouvintismo, como um conjunto de práticas e discursos normalizadores, faz-se presente, não raro, de formas pouco visíveis. Sutil, nas entrelinhas dos gestos, a subjazer esforços, ele apregoa e inculca formas por vezes brandas de dominação e controle. ‘A normalização é um dos processos mais sutis pelos quais o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença. Normalizar significa eleger – arbitrariamente – uma identidade específica como o parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. (…) A força da identidade normal é tal que ela nem sequer é vista como uma identidade, mas simplesmente como a identidade’ (SILVA, 2000, p. 83 apud LUNARDI; MACHADO, 2007).”1
“O termo audismo foi utilizado pela primeira vez em 1977 por Tom Humphries, educador e autor surdo americano, para designar o empreendimento opressivo sobre os surdos, conduzidos por especialistas que afirmam servi-los. Refere-se ao sistema educacional que, detendo os saberes de ‘especialistas’, ocupa-se em produzir e legitimar julgamentos sobre a ‘surdez’ e os ‘surdos’. Uma instituição audista, por exemplo, descreve, avalia, estabelece qual a escola que melhor convém ao surdo e, às vezes, até mesmo, onde é mais apropriado que resida. Ela inclui profissionais como administradores, supervisores, conselheiros e reeducadores de surdos, professores, certos intérpretes, fonoaudiólogos, psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. Ou seja, qualquer categoria profissional que ofereça serviço a uma instituição audista compartilhando, assim, com os pressupostos da ideologia audista.”2
“A década de 1990 representa um marco nas lutas para o movimento surdo, com enfrentamentos às práticas de ouvintismo/audismo para o reconhecimento de nossa diferença linguística e cultural no processo educacional. Desde a oficialização da Libras, por meio da Lei Federal n.º 10.436/2002 e das diretrizes do Decreto Federal n.º 5.626/2005, o processo de obrigatoriedade da inclusão da Libras nas grades curriculares das licenciaturas vem contribuindo na formação dos professores para atuar com alunos surdos em escolas inclusivas e/ou bilíngues. Como professora surda, atuando na docência da disciplina de Libras no ensino superior, deparei-me com inúmeros desafios envolvidos na efetivação dessa política que abrangerelações de poder entre surdos e ouvintes em sala de aula.”3
“Como é possível observar, as imagens elaboradas pela artista [Nancy Rourke] descrevem a visão dos ouvintes sobre ‘O que é surdo?’, a partir de uma visão audista. O conceito de ‘audismo’ refere-se à discriminação para com pessoas surdas, demonstrando a forma como foram oprimidas e rejeitadas devido ao seu modo de ser surdo e ao seu direito de ter uma vida normal, tal como as pessoas ouvintes. A definição de Humphries (1975 apud BAUMAN, 2004, p. 2) é a noção de que alguém é superior com base na sua capacidade de ouvir ou de se comportar como ouvinte. Para explicar melhor, Harlan Lane, psicólogo britânico dos Estudos Surdos, aplicou o conceito de ‘audismo’, definindo a forma como se tratam as pessoas surdas a partir do ‘modo como os ouvintes dominam, se reestruturam, e exercem a autoridade sobre a comunidade surda’ (LANE, 1992, p. 45).”4
“A comemoração do Setembro Azul foi idealizada durante o XIII Congresso Mundial da Federação de Surdos, ocorrido na Austrália em 1999, com a realização da cerimônia do laço azul para lembrar as vítimas da opressão e do audismo ou ouvintismo – preconceito sofrido por quem tem surdez.”5
AUDISM. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/audism. Acesso em: 14 nov. 2022.
AUDISM. In: ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/audism. Acesso em: 14 nov. 2022.
AUDISMO. In: ACADEMIA DELLA CRUSCA. Parole Nuove. Disponível em: https://accademiadellacrusca.it/it/parole-nuove/audismo/18495. Acesso em: 14 nov. 2022.
1 EIJI, Hugo. A luta contra o ouvintismo. Cultura Surda, s.d. Blog. Disponível em: https://culturasurda.net/audismo-ouvintismo/. Acesso em: 14 nov. 2022.
2 SOUZA, Regina Maria de. Sujeito surdo e profissionais ouvintes: repensando esta relação. In: Estilos da Clínica, v. 3, n. 4. São Paulo, 1998. Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-712819.... Acesso em: 14 nov. 2022.
3 BRITO, Fernanda Martins de. Professora surda e intérprete de Libras no ensino superior: relações, papéis e referências em sala de aula. Universidade Federal do Paraná. Tese de Mestrado. Curitiba, 2019. Disponível em: https://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/trabalhoConclusaoWS?idpessoal=5.... Acesso em: 14 nov. 2022.
4 Idem, ibidem.
5 G1 SANTARÉM. Órgãos de apoio aos surdos apresentam propostas a vereadores de Santarém. G1, 25 set. 2018. Santarém e Região. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2018/09/25/orgaos-de-apo.... Acesso em: 14 nov. 2022.