Parece uma tarefa quase impossível vender a ideia de que devemos nos empenhar seriamente na melhoria da qualidade do ensino superior. Colocar de lado velhos vícios trazidos pela cultura do magister dixit, que predominou (ou predomina) no Brasil durante tantos anos, fruto possivelmente da influência bacharelesca que recebemos dos nossos irmãos portugueses.
Numa oportunidade rara, falamos para 300 professores, de 32 cidades brasileiras, que estão sendo incorporados ao quadro de magistério da Universidade Estácio de Sá, hoje a maior do país, com mais de 200 mil alunos. Foi uma bela iniciativa da sua direção: reunir num hotel do Rio os mestres contratados, para lhes dar uma noção de organicidade e levar-lhes a mensagem do esforço comum pela melhoria da qualidade. Baseamos a conferência e o debate na expressão “Sim, eu poso!”, retirada da vitoriosa campanha eleitoral do presidente Obama.
Houve o desejo confesso de que todos aprendessem a missão universitária, consubstanciada no desejo de valorizar a competência, inclusive com o fornecimento de bônus para os professores que obtivessem os melhores resultados – e para isso têm que vestir a camisa – além de um esforço pessoal para o aperfeiçoamento das aulas ministradas, com o emprego de tecnologias modernas hoje à disposição do sistema.
Veio à tona a educação à distância, modalidade que cresce no Brasil, com o fim da desconfiança de que se trataria de um reprovável facilitário. O país assinala a existência de quase 2 milhões de alunos que empregam a modalidade consagrada em outras nações (até mais desenvolvidas) e sabe-se que o processo de avaliação é bastante rigoroso, e nem poderia ser de outra forma. As provas são presenciais, em centros especialmente credenciados. Não deixa de ser uma oportunidade democrática de expansão do acesso ao ensino superior, necessidade que se assinala pela diferença (para menos) que nos separa de países como a Argentina, o Chile e o México. Se hoje temos 7 milhões de universitários, deve-se fazer um esforço, sem descurar da qualidade, para que esse número dobre em muito pouco tempo. É uma necessidade da nossa expansão social e econômica.
Na ocasião do encontro mencionado, abordou-se enfaticamente a questão da valorização da língua portuguesa, o que não se faz sem bibliotecas modernas e bem abastecidas, sobretudo de autores nacionais. O diretor Eduardo Alcalay esclareceu que a sua Universidade adotará um procedimento inédito, no nível superior: quando o aluno fizer a inscrição, receberá todo o programa do curso pretendido e o material didático indispensável: “Não se pode lecionar sem esse complemento essencial, que é o livro.”
Houve, por parte da plateia, uma sensação de alívio e aplauso, pois são intenções muito claras de implementar um projeto pedagógico de primeiro mundo. As perguntas se sucederam e, nas respostas, ficou a sensação de que ali se está construindo uma Universidade diferente, de espírito nacional, mas de olhos postos nas necessidades do nosso diversificado mercado de trabalho.
Jornal do Commercio, 14/8/2009