Com muita simpatia, como é da sua natureza, o ex-presidente Bill Clinton esteve em São Paulo, onde falou a alunos e professores da Universidade Anhembi Morumbi (Laureate), a convite do reitor Gabriel Mário Rodrigues. Anotamos momentos luminosos da sua conferência, como aquele em que o visitante, depois de afirmar que somos hoje interdependentes, vaticinou que “não podemos escapar uns dos outros”. É o resultado do mundo globalizado em que vivemos.
Sugeriu a valorização das forças positivas que se encontram no campo da educação, lamentando que os benefícios do mundo sejam profundamente desiguais. A propósito, o último relatório do Unicef mostra que crianças negras, indígenas, da zona rural e com deficiência vivem num país pior do que aquele mostrado pelos indicadores nacionais. Como exemplo, podemos citar os dados do ensino médio: “A frequência de brancos é 49,2% maior do que a de negros”.
O crescimento hoje se exacerba com a expansão da tecnologia da informação e com os valores do ensino fundamental, onde quase chegamos à universalização, com 97,6% das crianças de 7 a 14 anos na escola. Metade não conclui a oitava série e há um quadro lamentável de professores despreparados.
Voltando a Clinton, aproveitou a enorme plateia para homenagear o presidente Lula: “Ele estabeleceu um admirável recorde de crescimento econômico sem inflação – e vocês devem se orgulhar disso”. Chamou a atenção de todos para o fato de que a desigualdade pode minar a própria essência da democracia. Exibiu dados impressionantes: “No mundo, cerca da metade das pessoas ainda vive com menos de US$ 2 por dia. Cerca de 1 bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1 por dia. Elas vão para a cama com fome todas as noites”. Isso é justo?
O ex-presidente, hoje voltado para ações assistenciais, lamentou que mais de 130 milhões de crianças nunca frequentaram uma escola e mais de 100 milhões não têm acesso básico a professores ou material didático. “Nada disso impede”, disse ele, muito aplaudido, “que estejamos vivendo uma enorme promessa para o futuro – e o papel das universidades é fundamental nesse quadro”.
Depois de aconselhar a defesa do empreendedorismo, elogiou a solução brasileira de biocombustíveis limpos, oriundos da cana de açúcar: “Vocês produzem 9 galões de biocombustível limpo para cada galão de biocombustível fóssil. Nenhum outro produtor se aproxima dessa taxa”. Para espanto nosso, o ex-presidente, depois de citar a Amazônia, referiu-se ao fato de que temos o ar mais limpo do mundo. Poderemos resistir, assim, aos processos de mudanças climáticas. Temos a chance de nos dar bem num mundo interdependente: “As universidades no Brasil têm um importante papel a desempenhar”.
Clinton concluiu a sua palestra com mensagem otimista: “Quero que os jovens do mundo cresçam de forma pacífica, próspera, fazendo história. Daqui a meio século a expectativa de emprego poderá crescer até os 100 anos, reduzindo drasticamente a desigualdade. Como fazer? A resposta poderá ser dada por vocês”.
Jornal do Brasil (RJ), 26/6/2009