A campanha da RBS contra o crack inclui mostrar aspectos sombrios da dependência, imagens que certamente impactam as pessoas, como o fazem, aliás, as fotos colocadas nos maços de cigarro. E isto já foi motivo de controvérsia nas campanhas educativas de saúde pública. A controvérsia baseava-se numa expressão cunhada pelo psicólogo norte-americano Leon Festinger: dissonância cognitiva.
Segundo Festinger, quando somos cotejados com uma informação que contraria, e reprova, nossas práticas habituais, temos uma de duas alternativas: ou mudamos nossas práticas, ou negamos a informação que estamos recebendo. Se alguém diz a um fumante crônico que fumo dá câncer de pulmão, doença cardíaca, entre outros, este alguém pode, aceitando a advertência, parar de fumar, mas pode também dizer que a advertência é alarmista, que as coisas não são bem assim, que os médicos gostam de assustar pessoas etc.
Por causa desse efeito paradoxal, durante muito tempo a saúde pública hesitou em mostrar as consequências danosas de certos hábitos, preferindo, ao invés, estimular um estilo de vida considerado sadio. Mas os resultados nem sempre foram muito bons, pelo menos a curto prazo, de modo que se tem recorrido à estratégia de mostrar as consequências danosas de certas práticas, como o tabagismo. Daí as imagens nos maços de cigarro, objeto, como sabemos, de muita polêmica.
Agora uma pesquisa séria traz subsídios para esta discussão. Trata-se de um levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e pela Universidade de Waterloo (Canadá). Quase metade (48,2%) dos fumantes ouvidos afirmaram que as advertências contidas nos maços de cigarro representaram um estímulo para que deixassem o tabagismo. As advertências fizeram com que 61,6% dos fumantes e 83,2% dos não fumantes pensassem nos riscos do fumo – a diferença deve correr pela dissonância cognitiva dos fumantes. Por último, 39,1% dos fumantes afirmaram que, por causa das advertências, não tinham tocado em cigarro no último mês.
O objetivo da advertência não é assustar; não se trata de cena de filme de terror. Trata-se, isto sim, de mostrar uma ameaça que precisa ser enfrentada. Isto não afasta a necessidade de recomendar um estilo de vida sadio. Exercício físico, por exemplo, motiva a pessoa a não fumar, a se alimentar melhor e a evitar a perigosa dependência da droga. O crack destrói o organismo de uma pessoa, o crack arruína a vida das pessoas. As cenas da campanha apenas ilustram esta verdade. E verdade é um componente poderoso na preservação da saúde.
Zero Hora (RS), 6/6/2009