Não seria lógico que se pretendesse unanimidade, na adoção do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Há resistências dentro e fora do país, algumas respeitosas, outras despropositadas. Como exemplo do que não constroi, podemos citar a TV Câmara, que, em lugar de esclarecer, como parece ser a sua obrigação, adota o clássico pensamento de Abelardo Chacrinha e faz a maldade: " O Acordo veio mais para confundir!". Esta é pelo menos a reiterada opinião do apresentador Paulo José Cunha.
Num programa em que se discutiu com a competente especialista Dad Squarisi, editora de opinião do Correio Braziliense, particularidades do texto jornalístico (se a pressa compromete ou não a qualidade), no final foi abordada a implementação do Acordo, adotado no Brasil a partir de um decreto presidencial, assinado na Academia Brasileira de Letras, no dia 29 de setembro de 2008.
O primeiro comentário a ser feito, para sossego dos colegas da TV Câmara, é que a obrigatoriedade só ocorrerá a partir de janeiro de 2012. Isso não foi referido no citado programa, aliás, muito bem editado. Em seguida, foi dito que Portugal terá que mexer na ortografia de 10% de seus vocábulos. O cálculo da Academia das Ciências de Lisboa é de 1,5%.
O problema delicado é a crítica ao lançamento do VOLP. A expressão "escolas e bibliotecas terão que jogar livros no lixo", é um evidente absurdo. Há um prazo estabelecido e como jornais e revistas estão aderindo cada vez mais aos ditames do Acordo, acreditamos sinceramente que ele logo se tornará efetivo, em todas as praças.
Há um pormenor que convém destacar: o atual VOLP é a quinta edição desse trabalho pioneiro da ABL, iniciado pelo saudoso filólogo Antonio Houaiss. Não foi feito sob medida, para o Acordo. Existe desde 1981. Quando as medidas de implantação do Acordo foram tomadas, unindo sobretudo as autoridades do Brasil e de Portugal, os filólogos e verbetistas da ABL se adaptaram rapidamente ao novo modelo, com grande senso de oportunidade.
Isso também não foi muito bem compreendido por alguns escritores portugueses, que reclamam da pressa que não houve. A pergunta é insistente: por que o Brasil não esperou para fazer o Vocabulário único, como se preconizava nos entendimentos de 1990? Aqui existe um problema de leitura equivocada. O que dizia a versão original do Acordo é que produziríamos em conjunto um vocábulo de termos técnicos e científicos. Isso ainda não foi feito, nem iniciado. Agora que o escritor Vasco Graça Moura tornou-se membro da Academia das Ciências de Lisboa, bem faria se liderasse um movimento para o início dos trabalhos do Vocabulário referido. A crítica seguida, injusta e mal informada não é, positivamente, o melhor caminho.
Está acontecendo no Brasil o que prevíamos. Grupos editoriais portugueses começam a se interessar pelo nosso imenso mercado. A Editora Leya, das maoires do mundo lusófono, está comprando parte da Nova Fronteira, para assim experimentar uma parceria que só pode render bons frutos, de parte a parte. Logo virá à tona o gigantesco mercado de livros didáticos - e aí, como se diz em algumas histórias infantis, todos viverão felizes para sempre.
Jornal do Commercio (RJ), 22/5/2009