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Vozes da educação

 

Tem razão o repórter Bráulio Lorentz, do “Jornal do Brasil”, quando se refere à principal prioridade que procuramos transmitir aos leitores do livro “Vozes da Educação” (Editora Altadena, 2009). Sem dúvida, é o direito à educação – e de qualidade – o que tem sido subtraído da maioria da população brasileira. Os resultados dos exames do Enem, com a debacle das escolas públicas, sobretudo as pertencentes aos sistemas estaduais, constituem a melhor comprovação do que afirmamos.


Querem identificar uma causa para isso tudo. Tarefa inglória. Os problemas se somam, de forma variada, e o pior dos caminhos é a tentativa de comparação com os resultados obtidos pelas escolas particulares, aliás, com um pormenor altamente auspicioso para a cultura fluminense: das 100 melhores escolas brasileiras, 29 estão situadas no Rio de Janeiro, inclusive a primeira delas, que é o campeoníssimo Colégio de São Bento.


É verdade que as escolas públicas, com exceção das federais, estão sucateadas. No caso do Rio, há quanto tempo não se controi um estabelecimento de ensino? Só para recordar um dado histórico: na gestão de 1979/1983, inauguramos 88 escolas em território fluminense. Depois vieram os Cieps, com toda a sua coorte de dificuldades. Mas era uma evidência de que se procurava, com as políticas públicas, oferecer alternativas de ensino à população. Agora, não se constroi e nem se reforma, deixando os alunos carentes numa situação de penúria insustentável.


Voltemos ao livro, lançado na sede da Academia Brasileira de Letras. São crônicas que se referem ao período 2005-2008, abrangendo educação, cultura e ciência, obedecendo aos postulados do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa, hoje uma realidade. Nessa pequena e elucidativa radiografia, com um apelo forte: devemos dar atenção especial à educação infantil, acompanhando as atividades no espaço escolar de um processo adequado de alimentação, o que nem sempre acontece, apesar da propaganda oficial. Talvez aí resida uma explicação convincente da comprovada carência dos alunos do Norte e do Nordeste, se comparados aos das demais regiões do país. As condições de apreensão do conhecimento correspondem à diversidade cultural brutalmente injusta em que vivemos, compondo os brasis que impressionam estudiosos estrangeiros.


Há outras questões essenciais abordadas: a necessidade de livros mais baratos e a participação dos pais ou responsáveis no processo de valorização do gosto pela literatura; a necessidade de romper o círculo vicioso da presença da violência nas relações escolares, com um pernicioso crescimento do desrespeito a professores e diretores; a quebra da cultura de que se pode pagar qualquer salário, por mais indigno que seja, aos que se formam para lecionar na rede pública(o mesmo professor, lecionando na escola particular, tem outra atitude em relação aos seus alunos, muito mais responsável e interessada); e a quase incompreensível resistência do sistema à reforma profunda dos cursos de formação de professores e especialistas.


Não vemos como mudar o quadro vigente sem uma ampla reconstrução do que se entende por escola pública. Medidas paliativas não resolvem.


Jornal do Commercio (RJ), 8/5/2009