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Ética e competência continuarão fundamentais

 

RIO - Para um jornalista que se aproxima célere dos 75 anos, as mudanças na produção industrial do jornal ocorridas desde a década de 70 do século passado até hoje foram profundas. Para um historiador da imprensa a parte industrializada mudou mais em 30 anos do que 300 dos tempos das impressoras Alauzet e Stanhope que imprimiam os diários do século 17 até hoje.


No entanto, se comparados na sua forma, uma edição do Times de Londres de 1810 e a de hoje são basicamente o mesmo “produto”, isto é, papel impresso e vendido por assinaturas ou nas ruas, por jornaleiros.


A existência de um jornal como o diário londrino ou a de um Jornal do Brasil depende exclusivamente das mudanças industriais agregadas pelas inovações da tecnologia, mas ficará seriamente comprometida se perder a capacidade de exercer seu papel essencial: informar com o máximo de objetividade e formar consciências com isenção, sem comprometimento com quaisquer grupos, políticos, econômicos, religiosos ou o que queiram.


Pode parecer óbvio, pois escrevo sobre o consabido: com as modificações na forma de produzir um jornal, as novas gerações se adaptaram perfeitamente às ferramentas colocadas ao seu dispor. Dinossauros da imprensa – como o autor deste texto – penaram para aprender o léxico da informática, mas hoje, como tantos outros da minha geração, ainda temos alguma intimidade com o .com a partir da arroba e seus penduricalhos.


Por esta parte não há problema. Mas o jornal do futuro e o futuro do jornal dependem muito mais do seu compromisso com o público leitor – e até com o seu passado – do que com a forma e o formato, as cores e o desenho de suas páginas, ou prêmios e ofertas oferecidas para atrair compradores. Ética, responsabilidade e competência no exercício da profissão, serão fundamentais, assim como hoje, nos anos vindouros.


Qualquer dia do futuro próximo, teremos um jornal bem diverso. Não me refiro ao on-line, aos blogs, aos celulares e a outras geringonças que já estão à disposição do respeitável público a preço de banana. Penso no jornal que irá, por ondas não sei de que tipo, diretamente para o cérebro do leitor, se ele alugar (tipo assinatura) um diminuto dispositivo para acoplar à parte externa da sua cabeça.


Poderão dizer que se trata de ficção científica barata, mas mesmo este tipo de “jornal”, só sobreviverá se o seu conteúdo servir para ampliar as qualidades humanas do leitor, torná-lo um ser melhor em todos os sentidos. Esta a missão da imprensa. E é com esta idéia fixa na cabeça que desejam trabalhar, seja qual for a tecnologia aplicada ao meio de comunicação, todos os jornalistas dignos da profissão que exercem.


Jornal do Brasil (RJ), 12/4/2009.