A definição é de Federico Fellini: "A Itália é uma capela histórica, cheia de obras de arte e de papas ali enterrados". O terremoto desta semana, nas proximidades de Áquila, espantou o mundo não tanto pelo número de vítimas e pelos estragos materiais. Em outras regiões, no México, no Japão, em São Francisco (1906), em Lisboa (1755), o desastre foi bem maior. Não se trata de relativizar a tragédia. Mesmo assim, a comoção é grande.
Grande também foi a reprovação à atitude do chefe de Estado Silvio Berlusconi, que, em sua primeira aparição após o terremoto, dispensou a ajuda internacional, garantindo que os italianos são orgulhosos e capazes de, sozinhos, enfrentar a adversidade: milhares de desabrigados e centenas de mortos.
Um tipo de machismo ridículo. A ajuda humanitária provocada por um desastre de grande porte faz parte da tradição entre os povos, independentemente de seus regimes políticos e de seus estágios civilizatórios.
Não faz muito tempo, um submarino nuclear russo, o Kursk, obra-prima da engenharia naval, afundou com mais de cem tripulantes a bordo. Vários países ofereceram ajuda para recuperar os possíveis sobreviventes. Os russos dispensaram o auxílio internacional, provavelmente para garantir o segredo de alguns equipamentos.
No caso de Áquila, não há segredo militar em causa. Vi, numa das fotos do desastre, uma bela cúpula do "settecento" suspensa no ar, mas não intacta, como aquele quarto do poeta Manuel Bandeira. Acredita-se que o governo fará o que for possível e necessário para minimizar o desastre, mas não deveria esnobar a ajuda internacional
Comecei a crônica citando Fellini. Vou encerrá-la com outro italiano, Benito Mussolini: "Não é difícil governar os italianos. É inútil".
Jornal do Commercio (RJ), 9/4/2009.