Li não sei onde que o mundo vai realmente acabar quando o sol se apagar, daqui a exatos cinco bilhões de anos. Ignoro como chegaram a esse cálculo. Minha modesta calculadora não chega a tantos dígitos. Em todo o caso, a previsão baseada na ciência é mais confiável do que a profecia de Nostradamus, que mais uma vez pisou na bola, insinuando que iríamos todos para o beleléu na passagem do século 20.
O que me fascinou neste palpite científico não foi o fim do mundo em si. São remotas as possibilidades de presenciá-lo, não creio que nos próximos anos a ciência aumente a tal e tamanho ponto a expectativa de vida de um brasileiro sujeito às chuvas e trovoadas do Terceiro Mundo.
Ao tomar posse no governo da antiga Guanabara, Negrão de Lima recebeu de seus técnicos em urbanismo um relatório apocalíptico: a cidade tinha cinco milhões de ratos em seus esgotos, tubulações, garagens e terrenos baldios, o que dava a média de um rato por habitante. Se não fosse tomada uma providência, e tendo em vista a fecundidade dos ratos, em menos de dois anos a cifra triplicaria, havendo três ratos para um carioca. Ele estava ameaçado de não governar os cariocas, mas governar ratos. Perplexo, perguntou: “Mas como é que vocês conseguiram contar?”
É mais ou menos assim que me sinto diante da científica previsão sobre o fim do mundo. Fico pasmo diante de cifras redondas. Os árabes, que eram fortes em matemática e inventaram a álgebra, não apreciavam números redondos, daí que o grande clássico da literatura deles se chama “As mil e uma noites”. E, ao contrário dos ocidentais, que juravam por 700 milhões de demônios, eles preferiam jurar pelas barbas do Profeta, que apesar de plural era uma só.
Jornal do Commercio (RJ) 17/11/2008