RIO DE JANEIRO - Não me dei ao respeito de acompanhar a complicada e dispendiosa sucessão presidencial dos Estados Unidos. Ao contrário da mídia internacional, que se empolgou desde cedo com a possibilidade do candidato Obama sair vitorioso na próxima terça-feira, preferi ficar na minha, com ocupações e preocupações de um alienado assumido.
Agora, na reta final da campanha, fiquei sabendo que o Partido Democrata gastou uma baba para comprar um horário nas principais redes de televisão norte-americana. Tudo legal, dentro das regras do jogo de um país que adota o capitalismo liberal.
Pessoalmente, sou descrente da democracia representativa tal como ela vem sendo operada em todas as partes do mundo em que há eleições para a renovação de seus quadros dirigentes. O poder econômico, que se expressa no poder financeiro, é invariavelmente o fator decisivo para a vitória de um ou outro candidato. A criatividade do animal político – que é o homem – ainda não encontrou uma alternativa para processar a consulta ao povo. Prevalece o princípio da força, nem sempre militar mas sempre econômica: quem não pode não se estabelece.
Não tenho esta fórmula alternativa nem pretendo tê-la. Tampouco me preocupo com isso. Simplesmente constato que as eleições, desde a do síndico de um prédio a de um novo papa, sempre paga algum tributo (ou todos os tributos) aos poderosos da vez.
As conseqüências são inevitáveis. George W. Bush, o satã mais ostensivo do nosso tempo, foi eleito e reeleito pelo mesmo sistema. Em 1933, a democracia de Weimar elegeu Adolf Hitler. Nos países totalitários, há eleições periódicas sempre ganhas pelo ditador de plantão. Há que se descobrir um tipo de democracia que não compre nem bajule a vontade do cidadão.
Folha de S. Paulo (SP) 02/11/2008