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Oposição: paga-se bem, ainda

 

As eleições municipais garantiram um avanço excepcional na contabilidade democrática do país. Ou melhor, na emergência de novas lideranças, a partir de critérios mais exigentes de êxito eleitoral, do que o da velha pajelança político-partidária e sua inércia nos palanques. Verificamos, sobretudo, no quadro da consciência de mudança, o arquivo rápido de forças que se tornaram obsoletas, diante do impulso do governo Lula. Marca-o a conservação da popularidade presidencial nesses 68% ímpares em nossa história política, à margem do partido, ou das composições políticas que o trouxeram ao poder.


Não se trata, entretanto, de prever, daqui para diante, um lulismo sem o PT, como se pensava, de saída, com os resultados políticos, de após o mensalão e a cupidez com que o petismo se apoderou da máquina política do país. Nem é um multi aliancismo que vai conduzir ao processo eleitoral de 2010, mas um alinhamento de acordo com esses critérios de modernidade, que definiram as vitórias, agora, dos prefeitos.


O que está em causa, sim, é o êxito dessas administrações, a justificar de vez que, no primeiro chão político do país a obra, o bem estar cutâneo do cidadão, predomina sobre os acenos da grande mudança histórica. A folha corrida de serviços avulta por inteiro sobre a ideologia. Não vamos mais simplesmente ao balaio esperto de alianças, em que o PMDB cresce como dono de terreiro eleitoral. Esquecemo-nos de que, ainda em quarto lugar, o PT foi o partido que mais cresceu, ou talvez o único que o fez, ampliando em 33% o número de alcaides sob a bandeira da estrela em todo o país.


Não conhecemos ainda a face dessas novas lideranças, e sobretudo de que forma uma visão prospectiva, muito mais do que nostálgica, os reúne hoje no governo Lula. É o que pode levar à obsolescência de forças históricas do PT, no resultado das eleições de São Paulo. Se Kassab, muito mais do que a vitória das oposições traduz a consciência do trabalho bem feito e neutro de um alcaide, é esse impulso que o leva a derrotar Marta na cidade-chave. E aí a propor o novo diferencial de mudança a bastião mais importante do velho PT.


O que mais importa, entretanto, é a derrota maciça das oposições com o abalo drástico do DEM e a redução do tucanato que torna impossível uma efetiva frente anti-Lula para 2010. Nenhuma arregimentação ideológica poderá definir-se em termos polares para esse confronto. As escolhas das governanças entram num baralho marcadamente diverso, tanto quanto a mesma fé de ofício que sagrou os novos alcaides será cobrada das governanças estaduais. E o Planalto já se antecipou, dentro dessa nova ordem de coisas, já que as plataformas técnicas de cooperação venceram as dependências partidárias, e asseguraram a quebra definitiva das alianças, típicas do velho Brasil, despedidas pelo avanço do governo Lula.


A candidatura Serra não passa pelas velhas convenções, mas por esta mediação da força estadual, que repetirá a síndrome que elegeu um Beto Richa em Curitiba, ou a governadora do Ceará, independentemente do apoio que lhe desse ou lhe retirasse o PT local. Este novo arranco de poder crescerá até 2010, e cujo impulso final é o último juiz o Planalto na visão da cobertura federal dos DACs no sucesso da Ministra Dilma, na Casa Civil.


O prefeito de Curitiba precisa muito mais de Lula do que de um alinhamento pelo sonambulismo oposicionista no próximo pleito. E uma candidatura Serra encontra, pela primeira vez, o federalismo da mudança em ação que deixa os governadores imprensados entre a liderança municipal emergente e o Planalto, para além das clientelas, como manda o nosso Estado de desenvolvimento.


O Brasil de dantes se podia permitir os compartimentos das autonomias estaduais e municipais, para fazer de cada mandato um novo pacto de poder e devoramento orçamentário, pelos comensais da hora em palácio. Reforçado pela democracia o país disputa as escolhas a largo prazo para a mudança, e não para o festim do velho regime, e seu eterno carrossel de chegada e saída do governo.


Jornal do Brasil (RJ) 29/10/2008

Jornal do Brasil (RJ), 29/10/2008