As próximas eleições municipais no Rio de Janeiro são exemplares para o lulismo pós-PT e a nova prosperidade sustentada do país. O toque do presidente no palanque é a consagração, de vez, do candidato ao seu lado. Mas a maré de sucesso que aposenta, de vez, o oposicionismo tradicional nada tem a ver com um populismo clássico, nem deixa o futuro a frete de qualquer lance do Planalto.
A moção de mudança já começa a fugir da esperança errática, explorada pelos evangelismos mais grosseiros; ou do sentimento meramente assistencial na luta contra a exclusão. Ou, sobretudo, de um abandono de uma efetiva visão de esquerda, pela crença de um progresso, vindo da sorte grande do encontro do tesouro do pré-sal.
O peso histórico do mandato de Lula segue como a garantia de base para evitar a tentação caudalosa do terceiro mandato. O presidente é o seu único freio, frente ao compromisso com a democracia profunda e as regras do jogo. A eleição carioca serve de cenário à consagração ou à derrubada do evangelismo primário, em que se abrigou a esperança desgarrada dos destituídos.
A resoluta criação de nova estatal para explorar os recursos do pré-sal é, talvez, o primeiro gesto que nos credencia ao desempenho dos Brics e a uma posição de força e estratégia num mercado multipolar, que desponta diante das novas contradições da hegemonia de há uma década.
O vigoroso ideário do presidente confronta agora o do tucanato, todo baseado no conformismo com os ganhos da Petrobras, como suficientes para responder à expansão do nosso negócio petrolífero. Não temos por quê, com a segurança das novas jazidas, cumularmos o capital internacional com a paga da pesquisa e prospecção, e nos privar de um vigorosíssimo projeto de educação maciça, impelido pelo manancial gigantesco dos recursos do pré-sal. E a prefeitura vencedora no Rio se identificará a esta reformulação, inclusive do que seja o "peculiar interesse" municipal sobre o ganho de royalties, ou contribuições que nos levam ao grotesco dos gastos desses milhões, em bandas, retretas, calçadas de louça e sanitários públicos milionários nas praças fluminenses.
Um candidato ganhador em sintonia com o governo do estado e o Planalto não acontece no Rio desde a redemocratização. Nem estamos preparados para o "choque cívico" a fazer do foco fluminense a nova São Paulo, na espantosa riqueza programada que marcará o futuro mandato presidencial.
O Globo (RJ) 22/09/2008