RIO DE JANEIRO - O maior gênio que andou por nossas terras foi o jesuíta Antônio Vieira, do qual estamos comemorando os 400 anos de seu nascimento. Imperador da nossa língua, segundo Fernando Pessoa, foi mais brasileiro do que português. Será redundante comentar sua personalidade e sua obra. Pinço apenas um pequeno trecho de um de seus sermões: “Isto foi o que Cristo disse. Atentai agora para o que ele não disse”.
E vai por aí, dizendo tudo o que desejava dizer. Creio que Machado de Assis pegou este achado e fez toda a sua obra na base do que os outros, dizendo muitas coisas, muitas coisas deixavam de dizer. E ele foi o primeiro a dizer e a deixar o importante sem dizer.
No dia-a-dia do que ouvimos ou lemos em diversos veículos de comunicação (imprensa, rádio, televisão, internet, publicidade), o mais importante não é o que fica dito, mas aquilo que não é dito. Governantes, políticos, formadores de opinião, costureiros, cozinheiros, filósofos e ensaístas de todos os tamanhos e feitios costumam falar muito e não dizer nada. É desse nada que é feita a história e o mundo.
Gosto de um pequeno trecho de “Terra Desolada” (T.S. Eliot): “Que rumor é este?/ O vento sob a porta/ E que rumor é este agora? Que anda o vento a fazer lá fora?/ Nada. Como sempre, nada” (Tradução de Ivan Junqueira).
Segundo a lição de Vieira, devemos estar sempre atentos para tudo aquilo que não é dito. No fundo, é o que realmente conta. Daí que paro por aqui, na desvairada ilusão de que atentarão para aquilo que não ficou dito. E, mesmo que ninguém atente para o dito ou para o não dito, o resultado é o mesmo: nada.
P.S. – Depois dessa, o cronista saúda o povo e pede passagem para necessárias férias. Atentai para o que ele não disse.
Folha de S. Paulo (SP) 02/09/2008