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Deu a louca nas mulheres

 

AOS 34 ANOS, MOLINA estava longe de ser um "Don Juan". Não só continuava absolutamente solteiro, para desespero da mãe viúva, que implorava por um neto, como nem sequer conseguia arranjar uma namorada. Molina era um solitário. O que, infelizmente, era mais do que explicável. Molina era feio, muito feio, Molina era pobre (trabalhava como balconista numa lojinha de subúrbio), Molina não era muito inteligente nem muito culto. Ou seja: suas chances de arranjar mulher eram mesmo diminutas. E ele não sabia o que fazer.


Foi então que um amigo lhe falou sobre o estudo realizado nos Estados Unidos, mostrando que zombar da própria pessoa aumenta o potencial de atração sexual. Mesmo não sendo nenhum gênio, Molina sedeu conta de que a pesquisa poderia reepresentar a solução do problema. A verdade é que senso de humor não lhe faltava e ele até gostava de debochar de si próprio. Por que não usar aquilo como afrodisíaco?


Resolveu tentar com a moça que trabalhava na lanchonete em frente à loja e onde ele tomava café todos os dias. Na conversa com ela, começou a inventar uma história sobre si próprio. Sou tão feio, dizia, que já fui até convidado para fázer o papel do Diabo numa peça, e não precisaria nem usar maquiagem, e sou tão burro que meus professores preferiam demitirem-se do colégio do que me dar aulas. A moça ria, ria, e, quando Molina convidou-a para sair, aceitou sem vacilar.


Ela foi a primeira de uma longa série de conquistas. Seguiram-se outras, muitas outras. A tática era sempre a mesma: Molina falava de si próprio, e fazia-o com uma imaginação e com um humor que a si próprio surpreendiam. Cada vez descobria mais coisas ridículas ou grotescas sobre si. E cada vez mais mulheres apaixonavam-se por ele. A mãe estava contentíssima, antecipando um casamento próximo, mas não era nisso que Molina pensava. Quanto mais falava mal de si messmo, mais deprimido ficava -e menos entendia as mulheres. As coitadas estão sendo enganadas e não se dão conta disso, concluía, amargo.


Resolveu dar um tempo. Não, não vai contar mais histórias a mulher alguma. Vai escrevê-las e reuni-las num livro intitulado "Deu a Louca nas Mulheres". Que publicará sob pseudônimo. Não quer multidões femininas correndo atrás dele.


Folha de S. Paulo (SP) 11/8/2008