George Yúdice vem alertando para a presença supranacional das corporações como influência do setor não governamental internacional.
O sociólogo Luiz Otávio Cavalcanti tem insistido nas observações de que isto necessariamente não leva a uma homogeneização e que, pelo contrário, ser diferente não quer dizer ser contrário.
Seria um despautério não discutir em casa de autores, como a ABL, a propriedade intelectual e as franquias culturais.
Não podemos é deixar que regulamentações envolvendo a Cultura fiquem a cargo apenas de autoridades de algum ministério de Industria e Comércio.
Não é possível consentir que o aparelho do Estado nos conduza arbitrariamente.
Nem descurar da advertência de Chun-tao Wu de quanto o exercício de poder econômico pode converter-se em status e legitimidade. Na mesma linha do que Bourdieu chama de “Capital Cultural”.
É inegável, por outro lado, a busca deliberada da arte como instrumento de realce da imagem daqueles tidos como meros “filisteus” ignorantes e indiferentes. Há de se atentar para essa espécie de estética comercial, como para o papel da mídia como tipo fornecedor de identidade cultural, como propõe o texano Douglas Kellner, destrinçando o papel da Guerra do Golfo, da ficção cyberpunk ou de Madonna. Ou ainda de Nano, como poética de um mundo novo. Assim dizem Victoria Vesna e James Gimzewski em livro que fala de nanobots e nanobods, além de propor se reconheça que a sabedoria está a exigir da ciência o direcionamento para o belo e o elegante.
A Academia que compreende o belo e o elegante pode impunemente ausentar-se dessas ousadias especulativas?
Por atitude passiva, omissão ou descuido, findaríamos por ser vitimas do insólito. Comenta-se o episódio do parecerista de certo departamento regulador de apoio tributário à Cultura, que determinou a um postulante obter a assinatura autorizativa de Kafka, a fim de levar à cena peça de sua autoria.Não é o próprio Processo?
Um ano a mais se passou e a Academia Brasileira é ainda maior, tudo porque não nos contentamos com o sucesso, nem esquecemos a eficiência. O tempo nunca será uma resina silenciadora da Academia. A experiência que continuamente alcançamos foi por percorrer os caminhos do passado na busca dos roteiros do futuro.
Pedro Nava pode ficar tranqüilo. Estamos atentos à lição que nos deixou, aquela de que a experiência não pode ser certo tipo de luz que só alumia para trás.
Pressinto na escolha dos oradores dos principais momentos acadêmicos deste ano a cuidadosa atenção e a evidente delicadeza da nossa Presidência para com os Decanos e ex-Presidentes.
Somos, em verdade, um grupamento especial. Falo de grupamento especial, no sentido de especial pelo calejado que a vida acadêmica nos impôs.
Sofremos as suas exigências e, talvez por isso, sempre estamos especialmente atentos para colaborar.
Nas sociedades mais abertas ou nas mais enclausuradas, tribais ou civilizadamente modernas, sempre há um lugar distinto para os que experimentaram a dor e a delícia de anteceder ou de dirigir.
Pressinto que a nossa Presidência gosta de nos dar essa possibilidade de falar libertos pela filosofia camoneana do saber de experimento feito e acho que a direção da Casa está certa. É assim mesmo. Para alguma coisa há de servir o ser antigo ou já ser um ex qualquer coisa.
Deste modo a gente põe o que pensa, livre e respeitosamente, à consideração dos Pares e de quem mais se interesse pelo nosso destino, pois data aniversária é tempo para auto-reflexão.
Da minha parte, já o quinto mais antigo do Colegiado, espero em Deus sempre estar longe de um “palpite infeliz”, situo-me apenas entre os que querem mostrar que amamos a Casa, também sabendo que, como diz o poeta Francisco Alvim,
“Há um fora dentro da gente
fora da gente um dentro”.
Jornal do Commercio (RJ) 7/8/2008