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Escrever é terapia

 

"Que notícias sensacionais podemos obter dos poemas?" pergunta, em versos famosos, o poeta norte-americano Williams Carlos Williams. Mas, depois desta desconsolada indagação, ele continua: "No entanto, pessoas perecem a cada dia / Por falta do que ali se encontra".


Williams Carlos Williams sabia do que estava falando. Além de poeta, ele era médico. Atendia em bairros pobres de sua cidade e escrevia quando lhe sobrava tempo. Tinha assim um sentido da urgência da vida, da luta insana necessária para enfrentar a doença com dignidade e de esperança. Foi essa dupla experiência que, sem dúvida, reforçou a seus olhos o valor terapêutico da leitura e da escrita. Uma noção que, entre parênteses, não é nova. Há séculos, há milênios, pessoas buscam, na leitura, algum consolo para suas angústias (a Bíblia é um exemplo). Um consolo sem o qual, como diz o poeta, muita gente talvez não resistisse à doença. O mesmo se pode dizer da escrita. Colocar no papel aquilo que nos atemoriza, que nos preocupa, que nos faz sofrer, funciona como uma válvula de escape, como um amparo. E nem é preciso que outros nos leiam. A prática do diário íntimo é antiga e mostra que a comunicação entre a pessoa e a página já ajuda muito no processo de autocompreensão.


E será que ajuda a pessoa a melhorar objetivamente de seus sintomas? Essa também é uma esperança antiga. Já no primeiro século d.C., Soranus, famoso médico de Roma, recomendava que seus pacientes lessem poesia e drama. Uma recomendação reforçada por ninguém menos do que Sigmund Freud. O criador da psicanálise admitia que, antes dele, a literatura já havia descoberto, há muito tempo, o inconsciente, o lugar da mente em que nascem os conflitos psicológicos. A prática de colocar livros ao alcance de pacientes hospitalizados (coisa que Benjamin Franklin defendia já no século 18) evoluiu para uma forma sistematizada de tratamento, a biblioterapia, e também para a formação de grupos e instituições que usam o ato de escrever como forma de tratamento.


Não havia, porém, uma avaliação controlada da eficiência dessas medidas. Agora, um trabalho realizado no Tufts-New England Medical Center, em Boston, traz subsídios para o tema. No estudo, 234 pacientes portadores de câncer foram divididos em três grupos: um grupo deveria preencher um rotineiro questionário sobre seus sintomas, um segundo grupo deveria escrever sobre como se sentia e um terceiro grupo ficou como controle. Durante oito semanas, os pacientes foram acompanhados e interrogados acerca das dores que sentiam. Como seria de esperar, aqueles que escreviam sentiam menos dor e mal-estar. É, como dizem os autores do estudo, um achado ainda preliminar, mas que faz sentido e explica porque tantas pessoas escreveram livros, alguns dos quais se tornaram famosos. William Carlos Williams estava certo: precisamos do texto, nosso e de outros. Faz bem à nossa saúde mental e à nossa saúde física.


Zero Hora (RS) 26/7/2008