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Os palanques sem Lula

 

O fechamento das candidaturas à eleição municipal define já a plataforma dos estragos pós-mensalão na organização da vida partidária do país. Todas as inscrições recuaram sobre a proposta eleitoral de 2004. Freou-se a vontade da competição política, entre os riscos novos trazidos ao antigo desempenho, hoje, sobre a lente policial, e a oportunidade nova que o desenvolvimento econômico está abrindo às carreiras de sucesso despontados no município brasileiro.


Por força, o ferido na jugular foi o PT, que mantinha, até o último pleito, uma expansão de 40% na disputa pelas vereanças e prefeituras, no primeiro chão político do país. O refreio em 10% nada tem a ver, por outro lado, com a vinculação final ao Presidente e ao Planalto. Só se amplia nestes dias a força inédita com que Lula chega ao meio do segundo mandato. É a figura totem para toda vitória nas próximas urnas. Não vai ao palanque na sabedoria de procurar uma auto-organização nova da força política, crestada pela decepção com o PT mas, sobretudo, com o Congresso transformado em escândalo permanente.


Sofreu recuo análogo o PSDB, ainda dotado de ambição ideológica, a evidenciar a dificuldade de toda polarização de uma alternativa consistente ao governo petista. Esta mesma oposição, aliás, nos seus núcleos de conservadorismo decidido, como o DEM, caiu ainda mais no alinhamento das campanhas, mostrando, para além das desmoralizações crônicas dos mensalões, um repúdio do statu quo carunchoso por uma consciência de mudança chegada ao nosso inconsciente coletivo. Em contraste, a vontade de competir, agora, vai beneficiar os partidos da esquerda utópica, já como nostalgia do purismo original diante da realpolitik de Lula. O PSB e o núcleo do chamado "bloquinho" avançam na inscrição de candidatos.


Sucesso mesmo, entretanto, dessa primeira conscrição é o do PMDB, apresentando o maior número de nomes para a eleição de outubro. É a volta à rotina intrínseca do nosso comportamento político, coriáceo aos choques e escândalos, tranqüilo na fisiologia desimpedida e a se transformar, noves fora, no maior beneficiário do pleito. Coleante, esta maioria objetiva pode reforçar toda política das novas coalizões de um governo que vê nas presentes urnas a inviabilização do retorno esperado do PT como partido dominante. Este horizonte sem sobressaltos ainda se reforça pelo fracasso das novas combinazzioni possíveis para um futuro pós-crise, como preanunciaria uma candidatura petista-tucana em Belo Horizonte e, agora, num melancólico terceiro lugar, na preferência da capital.


Os pesos pesados petistas que voltam cansados às urnas ganham por inércia de seus contendores, a custo, como Marta em São Paulo. Em todo o país não despontam caras novas do PT, que indiquem um nítido reforço de liderança, no dito partido diferente. Mantém-se o petismo nédio na engorda clientelista, abraçado à máquina pública, dos muitos feudos e donatários sindicais. E os movimentos sociais não vão à conquista do aparelho municipal, que marcou a primeira onda petista, na crença dos "orçamentos participativos" e de um avanço da efetiva presença popular no poder como primeira aspiração da mudança. Esta hoje vai, por inteiro, à confiança inalterada do Presidente, e a sua capacidade de mobilização nacional dos prefeitos pemedebistas que sairão das urnas garante um governo de "excesso de maiorias" por sobre qualquer antiga exigência de uma contabilidade partidária. É esse o somatório da conta de poder que garante Lula, saindo de todos os palanques. A fisiologia é reptiliana para se adaptar à mudança. E essa já se deslanchou, como sabe o povo com o "Lula-lá" e o novo dinheiro no bolso, e que já descarta o ventilador mais barato nos supermercados.


Jornal do Commercio (RJ) 25/7/2008