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A ABL, 111 anos depois

 

Presidida por Machado de Assis e secretariada por Joaquim Nabuco, a Academia Brasileira de Letras foi fundada há 111 anos, no dia 20 de julho de 1897. E quando isto aconteceu, era uma Academia que não tinha sequer onde se reunir.


Perambulou por vários endereços, desde a Revista Brasileira, de José Veríssimo até o escritório do Acadêmico Rodrigo Octávio, nos altos da Farmácia Araújo Pena, à Rua da Quitanda, 47, com a qual Bilac se conformava, dizendo:


- Nesta farmácia, pelo menos estamos próximos dos remédios para nos socorrerem nos achaques de nossa velhice.


Dali, a ABL mudou-se para a ala esquerda (sic) do Silogeu Brasileiro, entre a então Praia da Lapa e o Passeio Público, onde hoje está o Instituto Histórico.


Ficou nele entre 1904 e 1923, quando se estabeleceu definitivamente no Petit Trianon, uma réplica do Palácio de Maria Antonieta em Versalhes, doado pelo governo francês ao brasileiro.


E aí, ampliada ao lado pelos 33 andares do Palácio Austregésilo de Athayde, tem estado até hoje a ABL, uma instituição tradicional e sólida, ao mesmo tempo, moderna, dinâmica e resistente às intempéries que têm açoitado os alicerces da nossa nacionalidade.


Ela não se encastela numa torre de marfim, nem se enclausura num cenáculo hermético e inacessível, preferindo antes ser uma partícipe atuante e presente em todo o cenário brasileiro. Daí a sua interação com a sociedade, numa política de braços abertos e receptivos, com cursos, conferências, seminários, mesas redondas, debates, convênios, edições de livros e visitas guiadas; com uma cátedra de Literatura Brasileira em Oxford; com o Espaço Machado de Assis, a Galeria Manuel Bandeira, o Banco de Dados, a Livraria Acadêmica, as Bibliotecas Lúcio de Mendonça e Rodolfo Garcia, o novo Vocabulário Ortográfico e o grande Dicionário, já em processo de elaboração, nos termos da unificação penosamente negociada com Portugal e a C.P.L.P.


Na Academia, não se aperfeiçoam os escritores, os poetas e os jornalistas, que já chegam feitos e eleitos, a baterem às suas portas, sem restrições ou preconceitos de raça, de idade, de gênero ou de credo, em candidaturas democraticamente apresentadas, como representantes de todos os segmentos notáveis, profissionais e intelectuais, da nossa sociedade: as Artes, a Advocacia, a Igreja, a Literatura, a Diplomacia, o Magistério, a Magistratura, a Medicina, a Política, a Economia, o Jornalismo, o Teatro, a Poesia e o Romance.


É como se os acadêmicos estivessem imunes do esquecimento. Cultivam a esperança de que nem tudo desaparecerá com eles e de que terão uma sobrevivência na lembrança da posteridade, embora aconteça que já não mais estarão vivos para presenciá-la.


E como recomenda uma cláusula pétrea dos seus Estatutos, escritos por Machado e Nabuco e lidos há 111 anos, na sua sessão inaugural, a Academia tem sido uma tenaz vigilante do idioma e da literatura nacionais, num desmentido vivo aos vaticínios pessimistas, que prevêem vida curta aos organismos literários, porque sobrevive há mais de um século, assaz fortalecida no respeito dos brasileiros.


Ao longo de todo esse tempo, e hoje sob a presidência do Acadêmico Cícero Sandroni, temos sido apenas 40 Acadêmicos titulares (e nunca seremos mais do que eles), numa população de 190 milhões de brasileiros, com a média de um acadêmico para cada grupo de quase 5 milhões de compatriotas e numa proporção que aumenta muito os nossos compromissos e deveres perante a nação e a sociedade brasileiras.


Jornal do Commercio (RJ) 21/7/2008