RIO DE JANEIRO - O pior de uma guerra, entre outros piores, é o sacrifício de inocentes de ambos os lados. Seria utópico que numa luta entre o bem e o mal, o crime e a lei, somente um lado (o mal e o crime) fosse exterminado. No confronto atual entre polícia e bandidos, aqui no Rio, o número de inocentes aumenta a cada dia.
Agora mesmo, enquanto escrevo esta crônica na manhã de quinta-feira para o fechamento antecipado da edição de domingo, o trânsito aqui da Lagoa está imobilizado: dois policiais foram mortos na confluência que dá acesso à Fonte da Saudade.
Não se trata de uma vingança da sociedade contra a polícia que em menos de uma semana matou por engano dois inocentes, revelando, de um lado o despreparo de alguns policiais e, de outro, a paranóia que tomou conta da cidade. Tal como nos velhos filmes de gângsteres, o dilema é matar para depois interrogar ou morrer para depois revidar. Dois absurdos que não deviam fazer sentido, mas acabam fazendo nexo no dia-a-dia da luta entre bandidos e mocinhos.
De maneira geral, a mídia demoniza a polícia, atribuindo-lhe todas as balas perdidas de uma curiosa batalha em que apenas um dos lados atira. Outro dia, no Rio, num ônibus conduzindo turistas idosos, foi encontrado um arsenal de pistolas, fuzis, bombas e 16 mil cartuchos, além de grande quantidade de maconha, vinda do Paraguai. Tratava-se do reabastecimento semanal de um dos pontos do tráfico de droga.
Esse arsenal ao que parece nunca será usado. Nos confrontos entre a polícia e os traficantes, somente as armas do Estado disparam. Matam, sobretudo, os inocentes. Desde que as autoridades decidiram pelo confronto com o crime, a alternativa que resta é primeiro matar para interrogar, ou morrer para depois revidar.
Folha de S. Paulo (SP) 20/7/2008