RIO DE JANEIRO - Animal urbano, sempre me encantei com as imagens bucólicas da roça, seus costumes e lendas, sobretudo suas sentenças incorporadas à sabedoria do homem comum.
Dessas imagens, a que considero mais ilustrativa é a do boi de piranha, sacrificado para que o resto da boiada atravesse incólume o rio assassino.
Nenhuma novidade em comparar a política com esse rio infestado de dentes assassinos, prontos a devorar a carne fresca dos que ali se atiram ou são atirados.
O caso mais recente é o da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência. Para prestigiá-la, ou para se livrar dela, Lula a escolheu como substituta preferencial no poder e parece que ela não apenas gostou da escolha, mas de certa forma a assumiu seriamente.
Ocupando o posto de um defenestrado, o Zé Dirceu, ela dava a impressão de que estaria acima do bem e do mal, até que Lula teve a feliz ou infeliz idéia de fazê-la sua sucessora. Em pouquíssimo tempo, o pedestal que a sustentava desmoronou, tornando-a suspeita das últimas embrulhadas em que o governo se meteu ou que se meteram com o governo.
Primeiro foi o caso do dossiê contra FHC; agora é a transação complicadíssima da compra da Varig - em que ela é formalmente acusada de ter participado em nível de decisão final. Tal como no primeiro caso, é possível que a onda contra a ministra fique diluída por outros eventos que nos separam da nova campanha presidencial.
Mas o apetite das forças interessadas em reduzir a nutrida candidata a osso descarnado continuará voraz. Lula é o responsável pelo potencial sacrifício de sua auxiliar mais próxima. Acredito que foi uma forma de avisar a outros possíveis candidatos que o terceiro mandato é mais seguro para todo o esquema do poder atual.
Folha de S. Paulo (SP) 10/6/2008