RIO DE JANEIRO - Palestra numa faculdade de comunicação aqui no Rio. Lembrei que a imprensa no Brasil teve dois momentos fundamentais na história do país, duas causas pelas quais valia a pena lutar: a Abolição e a República. Bem mais tarde, tivemos outra causa em que a imprensa, dentro dos limites de uma censura atroz, combateu o regime totalitário de 64.
Houve causas menores, mas igualmente importantes, como a do impeachment de Collor e a campanha pelas eleições diretas. Temos hoje a cruzada pelo meio ambiente -que inclui a região amazônica- e a questão da segurança, sobretudo nas grandes cidades. São causas importantes -repito-, mas pontuais. Fazem vítimas, mas não farão história.
Como de praxe, após as preliminares, os alunos começaram a se manifestar por meio de perguntas, a grande maioria delas culpando a imprensa pela corrupção entranhada não apenas no poder mas na vida pública em geral. Foram citados não apenas os escândalos mais recentes envolvendo autoridades mas casos específicos, como o da menina que foi atirada pela janela, supostamente pelo pai e pela madrasta, que, aliás, estão presos.
Os alunos, quase sem exceção, culpavam a mídia pela má cobertura dos fatos, atribuindo aos jornais a demora na conclusão do caso. Queriam ver sangue, a mídia clamando pela vingança, assumindo poderes de polícia e de Justiça.
Ficaram decepcionados quando considerei redundante a cobertura não apenas deste mas de outros fatos. Citei dois deles que atualmente ocupam a mídia: a cassação do deputado Paulinho, da Força Sindical, e a prisão relaxada de um ex-diretor da Polícia Civil fluminense. São páginas compactas de noticiário, espetacularizando a miséria humana, mas sem o poder de punir em nome do clamor público.
Folha de S. Paulo (RJ) 8/6/2008