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Semeando o hábito da leitura

 

"Nesta terra, em se plantando, tudo dá", escreveu Pero Vaz de Caminha na carta em que anunciou ao rei de Portugal a descoberta do Brasil. Esse "tudo" incluiria leitores? Como se faz para semear o hábito da leitura? Essas dúvidas foram reforçadas pela pesquisa do Instituto Pró-Livro acerca dos hábitos de leitura na população estudantil brasileira. De modo geral, no Brasil lê-se pouco. A pesquisa Retrato da Leitura no Brasil realizada em 2001 já mostrava o brasileiro lendo em média 1,8 livro por ano, índice baixo, se comparado ao de países como França (7), Estados Unidos (5,1), Inglaterra (4,9) ou Colômbia (2,4). Os estudantes lêem mais: 7,2 livros por ano, mas desses 5,5 são textos didáticos ou indicados pela escola.


Não é difícil correlacionar esses números a outros, ligados ao desempenho escolar: o Brasil ocupa a 52ª posição no Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Alunos, realizado em 2006 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que avaliou os conhecimentos na área de ciências de estudantes de 15 anos em 57 países, e sua habilidade de usá-los para resolver problemas cotidianos. É claro que a falta de leitura explica pelo menos parte desse desanimador resultado. E ela é explicada por vários fatores: o livro no Brasil é caro, o que gera um círculo vicioso: as pessoas não compram, e por isso o preço é aumentado pelas editoras. Estas são em número razoável, mas só existem cerca de 2,4 mil livrarias (o ideal seria 10 mil); 89% dos municípios não possuem estabelecimentos livreiros.


O essencial, como sublinha o Plano Nacional do Livro e da Leitura, é a criação de uma cultura do livro, um entorno que estimule o jovem leitor. Isso começa com as famílias-leitoras, para usar a expressão da Unesco. A pesquisa comprova que cerca de dois terços dos jovens foram influenciados pela mãe. Quando indagados sobre a idade em que mais leram, 43% responderam que foi até os dez anos. Ou seja: no hábito da leitura, infância é fundamental.


A maioria dos jovens (70%) lê por exigência curricular. Leitura não é vista como instrumento de progresso pessoal: 60% dos jovens não conhecem ninguém que melhorou de vida por ler.


Esses resultados dão boas sugestões sobre o que fazer para criar leitores. A família é nesse sentido uma verdadeira incubadora, e é preciso que os pais se conscientizem de seu papel. Ler para os filhos é estabelecer um vínculo afetivo - e permite que a criança associe o objeto livro à figura protetora do pai e da mãe. Depois vêm os professores, que representam 37% das pessoas que mais influenciam os jovens. A escola progrediu ao transformar o que era obrigação numa atividade criativa e lúdica; a interação do aluno com o texto é fundamental, bem como a participação em eventos literários. O estímulo governamental, por meio de programas de distribuição de livros, é decisivo; e às editoras compete tornar o livro um objeto mais atraente e acessível. Em se plantando tudo dá. Inclusive leitores.


O Estado de S. Paulo (SP) 28/5/2008