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Enfim, a Europa americana

 

Todos os jornais da Europa Ocidental exibiram, há 48 horas do pleito italiano, a figura rotunda de Silvio Berlusconi, já tão para além do ícone, escarrapachado no seu sofá e no não dizer nada, com uma tranqüilidade constrangedora. As frases se arrastam fora do tempo numa agenda do óbvio e dos recados de folhinha e aniversário. O “Cavaliere” acena com o perigo do comunismo, com o afrouxo dos impostos, evidentemente com a certeza da “pax americana”, que gostaria se perpetuasse com o presente Salão Oval.


O recado de fundo é o da crença da neo-estabilidade de todo o sistema financeiro mundial, que o “Federal Reserve System” logrou agora a duras penas, banir o fantasma da recessão.  Mas se consolida, ao mesmo tempo, a capilaridade profunda entre os regimes financeiros dos dois lados do Atlântico, de que só, em pequenas franjas de programas sociais, pode se apartar uma esquerda na realpolitik européia.


Veltroni, o adversário emergente de Berlusconi, e em inédita e conscienciosa campanha por todo o país, não deixou dúvida quanto à opção americana como uma regra sem alternativa, tal como o socialismo francês emudece diante da nova aproximação profunda entre o Eliseu e a Casa Branca. Verificamos nestes dias também a sanção última do balanço geopolítico, em que desaparecem na “grande Europa” as chances da “velha Europa” do começo de uma verdadeira economia continental, há meio século.


Foi barrada a duras penas a entrada da Ucrânia e da Geórgia, no novo complexo do mundo global. Mas é claro que o sonho da Constituição Européia se vê de vez abortado, na sua integração regional frente às bancadas americanas, escrupulosas e submissas, a partir da Polônia, da Croácia, da Chequia, ou da Eslovênia.


A NATO concorda, ao mesmo tempo, em mudar o rumo dos mísseis contra os decantados projéteis iranianos, acolhido o argumento final, para manter seu dispositivo de foguetes na região.


 Mas até onde essa nova realpolitik, sem meias palavras, previu o pronunciamento do general Petreus, diante do Congresso americano, como Chefe das Forças Armadas no Iraque?


 Tanto Hillary quanto Obama não lograram, na hora, a interpelação criadora que vencesse o quadro de fatalidade com que as Forças Armadas de seu país encaram a ocupação sem data de sair do Oriente Médio.


Os Estados Unidos não tem data para sair do Oriente Médio e é ingênuo ou risível, que a onda democrática possa levar a outro desfecho. Ou, quem sabe, a uma chapa republicana McCain e Petreus?


Berlusconi não precisa repetir que, na época do comunismo, chegou à Casa Branca o general Eisenhower, responsável pela criação da NATO. O militar do dissenso exato e minucioso, que ora falou em Capitol Hill, apontou aos cálculos e as planilhas do desenho de uma hegemonia sem volta.


Jornal do Commercio (RJ) 18/4/2008