RIO DE JANEIRO - Mais de três anos nos separam da próxima sucessão presidencial, mas a classe política -e seu anexo mais espalhafatoso, que é a mídia- não pensa em outra coisa. É a conhecida anedota do Juquinha, o menino safado que só pensava "naquilo".
Bem verdade que muita coisa ainda pode mudar, mas o quadro estrutural está esboçado, necessitando apenas dos retoques de última hora e de primeira necessidade. Como disse o vice-presidente, José Alencar, na paisagem não há candidato mais forte do que Lula. Ao contrário dos militares que se sucederam no poder, a força do atual presidente não está nas armas, mas no voto. A taxa de aprovação de seu governo e de sua maneira de ser cresce cada vez mais, apesar da virulenta oposição de alguns setores.
Mais uma vez teremos, em breve, o tradicional duelo entre a lei e a força. Para a aprovação do segundo mandato de FHC, a força venceu a lei, em forma de notas verdinhas que foram generosamente distribuídas. Para um terceiro mandato de Lula, a moeda talvez não seja a mesma, mas o resultado será o mesmo: a força ameaçando derrubar a lei.
No último ano do governo de JK, foi feito um movimento para mudar a Constituição. As sucessivas inaugurações de grandes obras e a euforia que inundava a alma nacional fariam dele um candidato imbatível. Ele recusou a tentação. Fixou-se na meta de voltar ao poder em 1965. Meses após ter deixado o governo, já era lançado candidato e homologado pelo principal partido à época.
Não deu. Não adiantou ter JK respeitado a lei. Foi vencido pela força que se armou contra o regime democrático e contra ele de maneira especial.
Agora, a força que ameaça a lei é de outra natureza. Acredita-se que mais suave, mas não deixa de ser força.
Folha de S. Paulo (SP) 8/4/2008