Escrevemos nesta coluna, faz alguns dias, comentários sobre a política americana, segundo os quais Hillary Clinton se aproximava do candidato Barack Obama. Deveria ela tirar tudo o que fosse pessoal contra o seu adversário e torná-lo público para garantir votação superior à do candidato. Esse é um costume da política americana, e devem os americanos se subordinar aos costumes já consagrados pelo uso continuado e as acusações pessoais que fazem parte desse conjunto, para o qual não há limite na gramática eleitoral dos Estados Unidos.
Leio agora num dos grandes jornais da imprensa paulista que também aqui a corrida presidencial tem exemplos como esse que a democracia brasileira aceita, mas não digere. Foi com esse título de manchete que o jornal paulista tornou público quem montou o dossiê contra Fernando Henrique Cardoso: "Braço direito de Dilma montou dossiê". Envolvendo assim um fato dos costumes políticos do Planalto paulista e nos pôs em linha com a política americana na qual nos inspiramos. A secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, montou o dossiê que envolveu a compostura moral de um ex-presidente da República, ainda com vida ativa na política paulista e, portanto, brasileira.
É o velho costume americano que vem para o Brasil. Geralmente essas acusações dão em nada, mas às vezes causam transtornos grandes para os acusados, que têm um grande trabalho extra-territorial para desfazer as acusações que lhes despejam sobre a cabeça. É um velho hábito da democracia seguido em todos os países democráticos no período eleitoral, e é difícil desfazer acusações quando elas vêm seladas com a estampilha do passado que tornou um hábito da campanha política.
Isto não engrandece a campanha eleitoral, nem o regime e, no entanto, é alimentado pelos interessados maiores que são os políticos de carreira. Não sabemos como Hillary Clinton se desviou da pecha de inquisidora do candidato Barack Obama. Com todo o seu charme e com a carreira política garantida pelas letras no fórum americano deve ter se saído bem, mas o regime é que não ficou bem. Somente essa nódoa desgasta com outras democracias americanas, que, no entanto, funciona muito bem.
Aqui é que devemos estar atentos para nódoas como essa ou assemelhadas que corrompem o regime. Está aí um balanço de política sucursal no caminho da eleição, julguem-no os eleitores.
Diário do Comércio (SP) 31/3/2008