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Triunfo de nossas cores

 

RIO DE JANEIRO - Mais uma vez o mundo se curvou diante do Brasil. Tantas e tamanhas vezes já se curvou que devia estar habituado, mas o Brasil é surpreendente, está sempre aprontando. A bola da vez não é um Santos Dumont, um Ayrton Senna, um Pelé, que em seus respectivos tempos obrigaram o mundo a dobrar a espinha diante de feitos individuais que se transformaram em façanhas coletivas.


Mas tudo vale a pena se a alma não é pequena -e grande é a nossa alma, sobretudo na hora dos nossos triunfos. Uma cidadã natural de um nobre Estado, que tem o nome de uma das pessoas da Santíssima Trindade, está sendo apontada como a responsável pela desgraça política de um governador nos Estados Unidos. A imprensa não arranjou melhor profissão para ela do que a de cafetina -nome um pouco defasado, no meu tempo as cafetinas eram mais modestas, embora vorazes. Exploravam mulheres da vida e eram exploradas a vida inteira pela polícia. E nenhuma delas alcançava a glória de tamanho feito: derrubar um governador que de repente podia ser presidente da maior nação do mundo.


Reclamaram que a chegada da cafetina no Brasil no último fim de semana foi uma consagração. Ela ameaça escrever um livro, será capa da "Playboy" e página amarela (e bota amarela nisso) da "Veja". Modestamente, está sendo assunto de um cronista habitualmente sem assunto.


Melhoramos muito. Nos últimos anos do século passado exportávamos travestis e mulheres da vida, e apesar de todas as mulheres serem da vida, algumas conseguem ser mais da vida do que outras. Subimos no ranking e agora exportamos cafetinas, por sinal bem sucedidas, que muito aliviarão as taxas de nossas exportações comprometidas pela má qualidade da carne do nosso gado vacum. Conosco ninguém podemos.


Folha de S. Paulo (SP) 25/3/2008