Aí estão os dados unânimes do desempenho do governo, no ineditismo do sucesso de Lula e no vigor crescente do segundo mandato. Não há que repetir o êxito, já cansativo, do controle da inflação, nem do crescimento do dito "pibão", nem da distribuição de renda, nem da política de acesso social dos 11 milhões de famílias, nem do avanço único das exportações, ou da entrada efetiva no mercado de emprego, ou da ampliação da produção agrícola no antigo latifúndio brasileiro.
Também é desnecessário salientar, com o avanço social, o da nossa democracia profunda e do reconhecimento internacional do empenho pela salvaguarda dos Direitos Humanos.
A passagem dos 68% para os 72% da aprovação presidencial propõe a pergunta, e a bem desta mesma democracia, do que sejam e para onde vão as oposições brasileiras. O próximo pleito municipal já abriu a correria dos palanques em volta de Lula, associada às obras do PAC, e à criação das alianças incestuosas, que perturbam, por inteiro, o que se pensava fossem, ainda há um ano, a resistência ao governo.
A sucessão presidencial tira do ringue qualquer possibilidade, a esta altura, de um candidato que não continue o atual governo do Planalto. Torna-se melancólica, agora, no Congresso a ida à tribuna das lideranças partidárias oficialmente contra o regime. Desfiam, com o mesmo discurso anódino, a litania do mensalão passada ao "esconde-esconde" do cartão corporativo. Todos à margem de qualquer apetite popular, ou de interesse do como vai, e para onde marcha a nação de Lula.
O arroubo tribunício de um Arthur Virgílio só soa às exéquias pobres do moralismo ritual, em que cada vez mais se encarquilha o país de antes da consciência da melhoria nacional e o avanço da sociedade civil sobre as tribos partidárias. Murcha a vela dessas oposições nostálgicas, ainda, de um golpismo, como a resposta clássica a um governo de mudança. E a má consciência do que representariam lhes impede de assumir o nome e o papel de um partido conservador no Brasil. A nova militância do PSDB, a partir do sucesso de Aécio Neves, mostra o destino natural de uma legenda de centro-esquerda no rumo de alianças com o PT, a partir do novo quadro de Minas Gerais.
Em contrapartida reponta aí também a pobreza de uma nova geração petista mostra ainda o vácuo entorno de Lula para garantir a nitidez da legenda no futuro interregno. A demasia do sucesso do Planalto só referenda, por outro lado, a maturidade democrática do país, no cumprimento do jogo constitucional. Quem duvidaria do sucesso do insólito de um plebiscito, tão ao gosto de Hugo Chávez e da quebra das regras do jogo?
O êxito da aplicação do PAC por outro lado estabelece uma nova articulação do município com Brasília que vitaliza um pluralismo de condicionamentos políticos, tornando por sua vez - e os viverá a partir das próximas eleições municipais - assimilável aos alinhamentos partidários anteriores.
Este horizonte sem sobressaltos vem de par com a resignação do oposicionismo a um inédito jejum de poder em Brasília. Não se tem um anti-Lula como, sobretudo, um próprio programa, em que o anti-governo se articule para a militância de longo prazo, fora da tradição dos golpes frente ao país do outro lado, que chegou ao poder para ficar. Lula sem sucessores imediatos, torna-se o fiador de um povo e de uma consciência que sobreviveu ao colapso do PT, bem como resistiu ao retorno do velho Brasil.
Encaminhamo-nos, no próximo quadriênio, para um gestor da esperança que ganhou o aval histórico do povo de Lula. E o presidente que já venceu a tentação do carisma é a melhor garantia para que o respeito à democracia leve, também, a oposição a fugir de um exausto "script" no Brasil das elites, sem surpresas nem cartas na manga.
Jornal do Brasil (RJ) 19/3/2008