A Academia Brasileira de Letras numa de suas sessões ordinárias do ano passado, sem alardes como é do estilo da Casa mesmo ao tratar temas relevantes, exaltou o eficiente contributo dos japoneses à cultura brasileira.
Tratava-se de iniciar o registro do centenário da imigração deles, cuja data exata ocorrerá no próximo dia 18 de junho.
Vieram do Oriente distante e aqui plantaram matrizes e distribuíram com a astúcia que lhes é própria matizes que a gente vai encontrando com facilidade.
Música, artes plásticas, poesia, religião, arquitetura, medicina e serviços paramédicos, arte floral, teatro, cinema, dança. Por toda parte o acento japonês. Na população brasileira inclusive, pelos casamentos interétnicos. Na gestão do serviço público e privado, por conta da competência.
Se desceram primeiro do casco do Kasato Maru, em 1908, para o campo, hoje, um milhão e meio deles tem noventa por cento morando em área urbana. Alimentados de sonho, nos começos do século passado chegaram ao fim dele, carimbando como originários de suas terras altos investimentos no Brasil.
É pena que os infortúnios da economia japonesa na última década tenha provocado maré baixa de investimentos por aqui, marcando ainda mais a diferença para o período anterior.
Alimentados de sonho, repito, os japoneses chegaram ao Brasil na motivação da riqueza. Eram pobres. Foram muitas as sofrências, inúmeros os obstáculos e os preconceitos. Eram fortes. Venceram.
Depois do isolamento comunitário de suas opções foram aos poucos compreendendo as vantagens de se habilitarem ao jeito brasileiro.
Shitaki na gai, ou seja - não há o que fazer - na tradução de Oliveira Lima, como me lembrou dias atrás Marco-Aurélio de Alcântara. Não há mesmo imigrante que resista aos fascínios do jeito brasileiro de ser. E do jeito brasileiro de ver. Não há o que fazer.
Dois Lima de Pernambuco, Oliveira e Barbosa, foram pensadores de séculos distintos que viram o Japão, examinando os elementos formadores daquela gente com reflexões de mestre. Barbosa Lima chegou a ser fortemente contestado à época da aparição do seu livro por nunca lá ter posto os pés.
Nem sempre é impossível ver, a despeito de retinas intermediárias. Barbosa Lima e Oliveira Lima deveriam ter seus trabalhos sobre o Japão reeditados neste ano. A Companhia Editora de Pernambuco talvez pudesse pensar nisto. Seria uma maneira competente de comemorações para o centenário da imigração japonesa aliada a uma maior difusão através da revista Continente, de escritores como Kawabata e Mishima, ainda pouco comuns aos brasileiros.
Valeria até para efeito comparativo do que foi o Japão daquelas 165 famílias que em abril de 1908 embarcaram em Kobe e do que é hoje o Japão brasileiro ou o Brasil japonês do século XXI, nas Américas e na Ásia.
Diário de Pernambuco (PE) 11/3/2008