Meu Deus, faz 49 anos que estávamos em Washington para a reunião da Associação Interamericana de Imprensa!
Havia chegado na véspera do encerramento dos trabalhos, que se dava, exatamente, no dia 15 de novembro quando todos diziam adeus e voltavam para seus países de origem.
Eu disse ao saudoso Carlos Rizzini: "Vamos a Cuba jantar e, no dia seguinte, partir." Ele concordou. Foi assim que eu vim a conhecer Cuba e sua capital. Havana é uma cidade estupenda, que Fidel Castro iria tomar com um golpe de audácia, tipicamente latino-americano, e ali ficar por 49 anos como líder absoluto da encantadora ilha. Até então, Cuba fora governada sob regime democrático com intervalos de ditaduras tipicamente latino-americanas.
Em Havana, pudemos ver que em todos os lugares se falava em revolução. A noite da cidade, porém, era tomada por hotéis magníficos, que ofereciam hospedagens nababescas.
Uma outra situação em que tive contato com Fidel Castro foi nas exéquias de François Mitterrand, em Paris. O governo francês se reuniu na famosa catedral de Notre Dame, onde se desenrolou a cerimônia rezada pelo cardeal de Paris, na época Monsenhor Mustinger.
A televisão francesa tout gauchiste quelle mostrava o líder máximo de Cuba diante dos chefes de Estados de outros países, inclusive do Brasil.
Foi quando me convenci, pela mão dos jornalistas da televisão francesa, que Fidel Castro era mesmo o líder máximo da América Latina e que só não se expandia mais porque os EUA não permitiam. Ele tinha a seu favor um continente que lhe era simpático.
Agora, Fidel Castro renuncia ao poder doente e alquebrado, passando o governo de Cuba ao seu irmão Raúl _ quer dizer, a si mesmo.
Cuba está arruinada na sua economia sob regime comunista. As suas águas miríficas foram capazes de fazer, de novo, a ilha ser a primeira fornecedora de açúcar do mundo, mas hoje Cuba não é se não uma aparência distante do que foi no passado.
Fidel Castro foi um mito que se desviou do fim a que almejava, podendo dar aos cubanos uma vida feliz e próspera, mas deu-lhes a desventura do trabalho escravo e da supressão da liberdade. Foi assim que se despediu do mundo o líder máximo de Cuba.
Diário do Comércio (SP) 21/2/2008