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A morte de Jango

 

RIO DE JANEIRO - Simone Iglesias, repórter da Folha em Porto Alegre, entrevistou na prisão de segurança máxima de Charqueadas o ex-agente uruguaio Mário Neira Barreiro. Ele revelou detalhes sobre a morte de João Goulart. Anteriormente, fez o mesmo a João Vicente, filho de Jango, que já entrou na Justiça pedindo a reabertura do caso, uma vez que acredita no assassinato de seu pai. E, entre numerosas provas, transcreve as declarações do ex-agente do Serviço Secreto do Uruguai.


Em pesquisa para o livro "O Beijo da Morte" (Objetiva, 2003), Anna Lee e eu entrevistamos durante 14 horas o mesmíssimo Mário, que nos disse a mesmíssima coisa que mais tarde diria a Simone Iglesias e a João Vicente: Jango morreu devido a uma troca de medicamentos proposital, dentro do plano de eliminá-lo antes que tentasse voltar ao Brasil.


Nosso trabalho não podia ser conclusivo. Levantamos as hipóteses surgidas sobre a morte, em apenas nove meses, dos três líderes (JK, Jango e Lacerda) que haviam formado a Frente Ampla, tentando dar um basta à ditadura militar instalada em 1964. Foram mortes anunciadas em 1975, num ofício confidencial do coronel Manuel Contreras, chefe do Dina, serviço secreto do Chile, ao general João Figueiredo, então chefe do SNI.


Pedimos a Mário Barreiro uma prova de sua participação na morte de Jango, ele garantiu que tinha dez horas de gravação, as fitas estavam com outro preso, precisávamos da autorização de um tal Papagaio, preso também em segurança máxima. Depois de muita pressão, mandaram que buscássemos as fitas num endereço que não existia.


Embora muita coisa do relato de Barreiro seja fantasiosa, seu depoimento deve ser levado em conta pelas autoridades do atual governo.


Folha de S. Paulo (SP) 29/1/2008