RIO DE JANEIRO - A família de João Goulart deu entrada na Justiça a uma ação sobre a morte do ex-presidente, que teria sido assassinado no Uruguai por membros de uma Operação Escorpião, que foi a antecessora da Operação Condor , destinada a eliminar pessoas que pudessem perturbar a paz do Cone Sul da América Latina, então governada por regimes militares.
Tratei do assunto num livro escrito em parceria com Anna Lee, "O Beijo da Morte" (Objetiva, 2003). Na semana passada, escrevi sobre a entrevista que fizemos com um ex-agente do serviço secreto uruguaio, Mario Neira Barreiro, preso na penitenciária de segurança máxima de Charqueadas (RS).
João Vicente Goulart, filho de Jango, entrevistou posteriormente o mesmo prisioneiro e conseguiu documentos que não estavam disponíveis em 2002, ano de nossa entrevista com Neira Barreiro.
Anna Lee e eu temos sido procurados por jornalistas que desejam conhecer nossa opinião sobre o preso de Charqueadas. É um sujeito perigoso (estava algemado quando o entrevistamos), com uma tendência ao delírio. Mas seu delírio tem uma espinha dorsal que supera os detalhes assombrosos de seu relato.
Na época da entrevista, ele prometeu mostrar provas que estavam com outro preso, ambos fiscalizados por um terceiro preso, o mais famoso no Rio Grande do Sul, que atende pelo apelido de Papagaio.
Não tivemos as provas, mas fortes indícios de uma operação destinada a assassinar o ex-presidente. Miguel Arraes, então na Argélia, por intermédio da mulher de Brizola, irmã de Jango, mandara recado para que ele não dormisse duas noites seguidas no mesmo lugar.
Esse fato consta de depoimento na Comissão Especial da Câmara dos Deputados que tentou apurar as circunstâncias da morte do ex-presidente.
Folha de S. Paulo (SP) 15/1/2008