RIO DE JANEIRO - Em comemoração a seus 70 anos, Vladimir Carvalho produziu e dirigiu um documentário sobre José Lins do Rego, "O Engenho de Zé Lins", com cenas do vale do Paraíba e dos principais cenários do ciclo da cana-de-açúcar, que deu perenidade a um dos maiores escritores de nossa literatura.
Como acontece nos documentários, há depoimentos de vários interessados na obra do autor de "Fogo Morto", e, entre eles, Vladimir me colocou. Eu tinha visto, havia pouco, uma foto de máquina-caixote, as mais primitivas da época, 1932.
Tarde de domingo em Maceió. Todos de branco, lá estão, da esquerda para a direita, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge de Lima, Zé Lins, Aurélio Buarque, Gilberto Freyre e Jorge Amado. Todos na altura do primeiro ou segundo livro. Não fizeram manifesto nem foram patrocinados pela alta burguesia do Nordeste. Eram amigos entre si, mas não faziam ruído. Faziam bons livros, que marcariam a vida cultural do século 20.
Comparei essa foto com outra, tirada no Teatro Municipal de São Paulo, um grupo mais numeroso e heterogêneo naquela que seria chamada de Semana de Arte Moderna de 1922. Foi um evento patrocinado por milionários paulistas. Fizeram muito barulho, muita festa e foguetório. Tinha um grande músico, um grande pintor, um grande poeta (Bandeira), um agitador cultural (Oswald de Andrade) e um polígrafo (Mário de Andrade). Geração respeitável, mas esgarçada, sem um núcleo que a amarrasse, a não ser o rótulo desgastado que sempre parece novo: "moderno".
A turma de 1932 praticamente não tomara conhecimento das tábuas da lei de 22. Eles chegaram onde chegaram por instinto próprio, pela realidade própria dos dramas e cenários do tempo e do chão em que viviam.
Folha de S. Paulo (SP) 10/1/2008