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Tudo é possível

 

RIO DE JANEIRO - Sem entrar no mérito de mais um canal de TV oficial, desejo o maior sucesso para a jornalista Tereza Cruvinel, a quem devo admiração e gratidão pelos artigos que publicava em sua respeitável coluna. O desafio que ela vai enfrentar não é mole, mas todos reconhecemos sua fibra e vontade de acertar.


Pessoalmente, estou me lixando para a necessidade de mais um canal de TV, ainda mais gerida ou supervisionada direta ou indiretamente pela máquina oficial, apesar de isentos que sejam os seus propósitos. Mas confio que Tereza saberá dar a volta por cima.


Por falar em TV, problema de saúde que se arrasta há meses me obrigou a enfrentar a telinha com certa freqüência. Ficou difícil manter meus hábitos antigos.


Não consigo me distrair com a programação existente, vejo os noticiários, documentários, raríssimos filmes, todos repetidos à exaustão, sobretudo nos canais de assinatura. Não é para me gabar, mas acho que, se tivesse tempo e equipamento, seria capaz de fazer um porta-aviões desde a primeira lâmina de aço a ser cortada para o casco. Acredito, sem falsa modéstia, que também seria capaz de construir uma ponte ligando Nova York a Londres. Já vi umas duzentas vezes como ela pode ser feita.


O problema é arranjar patrocínio, tanto para fazer uma ponte transoceânica como para editar um livro de poemas que nunca escrevi -nem pretendo escrever. Desconfio de que ninguém acreditará nas minhas possibilidades, nem como construtor de pontes nem como poeta.


Outro dia, recebi o convite para um show. Metade do cartão -muito bem impresso- era ocupada pela relação dos patrocinadores: três estatais, alguns ministérios, duas ONGs, uma companhia aérea, um refrigerante e até mesmo uma produtora de soja.


Folha de S. Paulo (SP) 4/12/2007