RIO DE JANEIRO - O financiamento das campanhas eleitorais é o pecado original que a classe política herda ao nascer para a vida pública. Uns mais, outros menos, sob disfarces ou escancaradamente, o cidadão que se habilita a um cargo eletivo, de vereador a presidente da República, de uma forma ou outra se submete ao esquema da corrupção em seus diversos graus e modos.
Homens honestos, de boa formação moral, ao adentrarem na selva política, são obrigados a aceitar a regra do jogo. As exceções, se existem, são raras. Ficam por conta do azar e das circunstâncias do momento a denúncia e a apuração de cada caso de corrupção.
O PT foi durante anos a vestal da vida pública, o partido que nasceu como a Virgem Maria, sem pecado original. No varejo, quando o PT ocupava prefeituras, a corrupção brotava, mas era abafada pelo dogma da imaculada concepção. No atacado, quando chegou ao governo central, a fonte do dinheiro ilegal brotou por todos os poros do organismo partidário.
O PSDB não conseguiu se vender como vestal da vida pública, como o PT. Mas se considerava o abrigo natural dos varões de Plutarco, matronas de Éfeso da moralidade e da eficiência administrativa.
A nação sabia que não era nada disso. Durante os oito anos de reinado tucano, o que houve de corrupção não foi mole, sobretudo no caso da emenda constitucional que possibilitou a reeleição do grande soba partidário.
Surgem agora as provas de que o PSDB, pelo menos no seu arraial mineiro, fazia parte da legião -um dos nomes que o próprio Diabo se atribuiu. O esquema da corrupção usado para a campanha do ex-governador Azeredo e de seu vice, o ex-ministro Mares Guia, foi o mesmo que ajudou substancialmente a reeleição de um tucano para a Presidência da República.
Folha de S. Paulo (SP) 25/11/2007